segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Aluno VS Professor: Marx e Hegel, Idealismo e Materialismo

Introdução

Nesta nova "coluna" pretendo trazer ao público casos históricos em que alunos divergiram do caminho dado pelo seu professor, ou pelas suas influências. Exemplos históricos incluem Aristóteles e Platão, por exemplo. Porém, decidi começar a série com dois dos filósofos mais influentes na história da filosofia contemporânea: Hegel e Marx. Porém, quem foram Hegel e Marx?

Biografia

Hegel

Hegel

 Georg Wilhelm Friedrich Hegel foi um filósofo alemão que se enquadra na corrente do Idealismo Alemão. Hegel é conhecido não só pela sua filosofia, mas também pela dificuldade dos seus livros. De facto, Hegel escrevia de uma maneira atroz, tendo sido acusado de Obscurantismo ao longo dos anos por várias pobres almas que se perderam no meio da Fenomenologia do Espírito. Neste artigo, o principal foco será a sua dialética, que pode ser chamada de "Idealismo Dialético".

Marx

 Karl Marx foi um dos vários estudantes de Hegel, pertencendo aos Jovens Hegelianos de Esquerda, tendo ficado conhecido pelas suas críticas ao Capitalismo, teorias económicas, e por ser, juntamente com Friedrich Engels, um dos fundadores da corrente filosófica/económica comunista. Marx criou o Materialismo Dialético, que se opõe diretamente à Dialética Hegeliana. Marx viria a afirmar que "se limitou" a virar a teoria de Hegel de "pernas para o ar". Vejamos as diferenças entre as duas dialéticas.

Dialéticas

Hegeliana

 A Dialética Hegeliana aplica-se a várias áreas, como a Lógica e a Fenomenologia. Porém,  focar-nos-emos na sua aplicação à História, área que mereceu grande enfoque por parte de Hegel.
 Esta forma de dialética é baseada, tal como qualquer dialética, na Dialética de Platão. Porém, Hegel criticou duramente Platão e a sua versão da dialética, pois é ineficaz quando toca a lidar com o cepticismo, por exemplo.
 Hegel define que, na história, existem três momentos:
  1. Afirmação;
  2. Negação;
  3. E Negação da Negação.
 Hegel argumenta que a História se faz em três movimentos, sendo que o terceiro é o conjugar dos bons e dos maus aspetos dos dois antecedentes - uma síntese de contrários. Talvez com um exemplo fique mais claro.
 Os Atenienses tinham um sistema em que havia grande liberdade individual, porém, não havia organização coletiva. Porém, os Persas, que os conquistaram, tinham grande capacidade de organização coletiva, mas odiavam a liberdade individual. Temos aqui a Afirmação (Tese, como dirá Marx) e a Negação (Antítese). Finalmente,o Império Romano entrou em cena, e atingiu-se uma síntese das duas outras sociedades. Havia uma boa quantidade de liberdade individual, e uma boa capacidade de organização coletiva. Existem vários exemplos na História de ocorrências semelhantes.
 Hegel definia este movimento como que um pêndulo motivado pelo pensamento, pela alma, pela mente, pelos ideais das pessoas que viviam no tempo em questão, em busca de maior liberdade política. E é aqui que Marx diz que não.

Marxista

 Marx adopta um sistema semelhante de dialética, porém, baseia-se no Materialismo. Isto é, são as condições materiais que moldam a história, não Deus, ou os ideais.
Marx
 Para Marx, liberdade económica significa liberdade "pura e dura", ou seja, os escravos não lutavam por quererem liberdade política, ou liberdade individual, mas sim por quererem liberdade económica.
 Engels e Lenine seriam os principais impulsionadores do Materialismo Dialético.
 A teoria marxista da História tem o nome de Materialismo Histórico, e baseia-se no referido acima: a História é determinada pelas condições económicas e materiais dos povos, ou seja, as relações interpessoais para satisfazer necessidades básicas, e.g. comida.
 O Materialismo Histórico oferece-nos também uma interpretação da História Universal em seis fases, pelas quais a Europa especificamente passou e irá passar, de acordo com Marx.
  1. Comunismo primitivo;
  2. Sociedade de escravos;
  3. Feudalismo;
  4. Capitalismo;
  5. Socialismo;
  6. Comunismo.
 É de notar também que Marx define que uma das coisas que nos separa dos animais são o facto de possuirmos meios de produção, com quais produzimos a nossa subsistência, como se pode ver no seguinte excerto:
 "Os Homens podem ser distinguidos dos animais pela consciência, pela religião ou qualquer outra coisa que queiras. Eles próprios começam a distinguir-se a si mesmos de animais, assim que começam a produzir os seus meios de subsistência, um passo que é condicionado pela sua organização física. Através da produção dos seus meios de subsistência os Homens estão indiretamente a produzir a sua verdadeira vida material."(1)
 Através deste excerto, Marx transmite-nos que as condições materiais, especificamente o facto de as podermos controlar através dos meios de produção, são o que separam os Homens dos animais.

 Conclusão

 Podemos observar neste artigo algumas das várias diferenças entre o professor, Hegel, e o aluno, Marx. É de notar a diferença marcante entre os dois, visto que pertencem a campos completamente opostos do ponto de vista filosófico (o Idealismo e o Materialismo), mas também é de notar que, mesmo quando o aluno quer ser "rebelde" e fugir às influências do seu professor, fica sempre retida um resto de teoria.


Notas
(1) Texto original, retirado de aqui: "Men can be distinguished from animals by consciousness, by religion or anything else you like. They themselves begin to distinguish themselves from animals as soon as they begin to produce their means of subsistence, a step which is conditioned by their physical organisation. By producing their means of subsistence men are indirectly producing their actual material life.  

Bibliografia:
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/08/Hegel_portrait_by_Schlesinger_1831.jpg
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d4/Karl_Marx_001.jpg
https://www.youtube.com/watch?v=q54VyCpXDH8
https://www.marxists.org/glossary/terms/h/i.htm#historical-materialism
Todos acedidos a 27-02-17

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