Esta é uma carta de amor. Não vejo maior
homenagem, do que a expressão (ou tentativa da mesma) do
sentimento que flui através dos meus neurónios. A todas as caras que, nos meus
meros e insignificantes dezasseis anos de existência, contemplei. A todos os
elementos deslumbrantes da Natureza, que constroem perfeitas expressões a meus
olhos. A todas as ondas de som que, magnificamente combinadas, chegaram aos
meus ouvidos. A cada porção de ar que já inspirei, e devolvi posteriormente ao
mundo que me rodeia. A cada átomo de oxigénio, nitrogénio, e carbono, presentes
nessa minúscula porção. A cada composto de ácido desoxirribonucleico presente
no meu ser, definindo precisamente a essência do que eu sou. A mim, e à
humanidade que é tão, mas tão pequena. A cada objeto em que toquei, ou senti a
ilusão de que toquei, porque na verdade, nunca o cheguei a fazer. Ao
conhecimento que me concedeu a consciência disso. Ao ser único, diminuto, mas
de complexidade sublime que foi capaz de me transmitir esse conhecimento, e a
todos os que vieram antes dele. À leitura. A todo o conhecimento que perdura
ainda por adquirir, e por todo o que assim permanecerá. A cada planta existente
na superfície terrestre, e à junção de todas estas, permitindo a evolução como
a conhecemos. A todos os oceanos. Ao aglomerado esférico de silicatos e metais
onde a raça humana prosperou. À estrela fulgurante à volta da qual orbito, e à
galáxia que a contém, juntamente com mais 100 mil milhões de outras. Ao colapso
da estrela de que somos todos feitos. À crescente vastidão. Ao vazio. À beleza
inimaginável de tudo o que já existiu, existe, ou alguma vez existirá.
Existem tantas estrelas no universo como o total de células existentes em todos os seres humanos do nosso planeta. Se uma só deu origem a tanto, o que mais poderá existir? Tantos mundos que chegaram ao fim, e tantos mundos à espera de ser criados.
Existem tantas estrelas no universo como o total de células existentes em todos os seres humanos do nosso planeta. Se uma só deu origem a tanto, o que mais poderá existir? Tantos mundos que chegaram ao fim, e tantos mundos à espera de ser criados.
Esta é uma carta de amor ao Cosmos. Esta é
uma carta de amor à ordem que compreende o meu caos.
Esta é uma carta de amor à consciência. Eu
estou aqui, agora. Eu estou viva. Nasci com a capacidade de pensar, e penso. Sinto
cada arrepio alastrar-se pela superfície de tudo o que sou, e as lágrimas
escorrerem-me pela face. Eu estou viva. Cresci na companhia de um sentimento
imenso de vazio, de alienação e distanciamento perante a totalidade do que me
rodeia, de uma falta de propósito, de um trilho encoberto. Esta é uma carta de
amor à ciência, pois sem esta, nada seria eu. Esta é uma carta de amor à
ciência, uma vez que esta me atingiu como um relâmpago atinge uma torre durante
uma tempestade, e desta forma, acendeu uma vela no meu caminho. Este é um
agradecimento, com a mais profunda sinceridade possível, à audácia de quem a
estudou, e de quem a transmitiu por gerações incontáveis; pois sem a ciência,
nunca poderia ter percebido, e aceitado o meu tamanho, a minha vivência, o meu
lugar no vasto universo; que é, nada mais, nada menos do que o que eu fizer
dele. Reconheço a sorte em estar viva. Apaixono-me pela mais pequena das
partículas, e pelo conjunto de tudo o que estas concebem. Como poderia não?
Nada provoca maior satisfação à minha pobre alma que a perceção de que somos
todos e tudo descendentes de estrelas. À escala do cosmos, todas as questões e
dilemas do quotidiano tornam-se desprezíveis. Nada disso importa na vastidão do
universo, e isso traz-me uma serenidade colossal. Em contrapartida, os átomos
que constroem as moléculas que formam cada ser humano, tiveram origem num
pequeno ponto que se expandiu, originando tudo o que hoje conhecemos, e o que
temos ainda por descobrir. De certa forma, somos gigantes, sistemas complexos
de interações por sinapses. Cada um de nós alberga um universo dentro de si.
Sinto uma sensação crescente de maravilha. Não existem palavras
suficientes em todas as sete mil línguas humanas juntas para descrever e
expressar o amor que eu sinto. Obrigada.
Ana Carolina Ribeiro, 10º A