segunda-feira, 31 de outubro de 2022

31 de outubro e o Génio Maligno do 11º A

Hoje fizemos um concurso de frases sobre a terrível ficção de Descartes, o Génio Maligno.



1º Prémio

Estamos todos a ver televisão, mas o Génio Maligno é que tem o comando !!

Menção Honrosa 

A hipótese do Génio Maligno diz-nos que o Homem raciocina, pensa, julga, porém o raciocínio é passível de erro e é incerto, logo, não garante que o Homem seja capaz de distinguir o verdadeiro do falso.


E, por fim, os 'geniozinhos' benignos do 11ºA.




domingo, 2 de outubro de 2022

ASPETOS DO CONTEXTO DO PENSAMENTO FILOSÓFICO DE DESCARTES

  « Esse mal do seu tempo (…) podemos exprimi-lo em duas palavras: incerteza e confusão.»  Koyré, Alexandre (1980). Considerações sobre Descartes. Ed. Presença, pág. 24 


«O século XVI foi uma época de importância capital na história da humanidade, uma época de enriquecimento prodigioso do pensamento e de transformação profunda da atitude espiritual do homem; uma época possuída por uma verdadeira paixão da descoberta: descoberta no espaço e descoberta no tempo; paixão pelo novo e paixão pelo antigo. (…) Alargamento sem igual da imagem geográfica, científica do homem e do mundo. Fervilhamento confuso e fecundo de ideias novas e de ideias renovadas. Renascimento de um mundo esquecido e nascimento de um mundo novo. Mas também: crítica, abalo, e enfim, dissolução e mesmo destruição e morte progressiva das antigas crenças, das antigas conceções, das antigas verdades tradicionais que davam ao homem a certeza do saber e a segurança da ação.»  Koyré, Alexandre (1980). Considerações sobre Descartes. Ed. Presença, pág. 24-24 

A crise da ‘Universidade’ (escolástica aristotélica) 

O termo «Escolástica» designa uma corrente filosófica medieval, dominante, sobretudo nos séculos XIII, XIV e XV, marcada pela conjugação entre razão e fé (cristã); a razão e o saber correspondiam, na interpretação escolástica, à obra filosófica e científica de Aristóteles, a fé exprimia-se exclusivamente na palavra e interpretação da BÍblia Sagrada. 
A especulação escolástica difundiu-se a partir das escolas catedralísticas e monásticas e, depois, das universidades. A Escolástica assumia um método de aprofundamento dos temas filosófico-teológicos a partir de quaestio (questões) e da sua discussão (disputatio). As disputatio tornaram-se o método do ensino universitário e o paradigma do conhecimento. As ordens religiosas dos Dominicanos e Jesuítas, dominaram a chamada «segunda Escolástica», correspondente à fase mais tardia. Descartes fará parte dos que rejeitam o domínio da Escolástica nas universidades e escolas, considerando que se ocupam de inúteis discussões que nada têm a ver com o rigor e o questionamento científico. No seu Discurso do Método e em várias outras obras, o filósofo associa o ensino escolástico à confusão e incerteza do conhecimento e advoga a necessidade de uma reforma geral do Saber (ciência). Descartes conta-nos que frequentou a escola Jesuíta (o Colégio La Fleche) e transmite-nos quão má considerou esta experiência: 
«Desde a infância fui alimentado nas letras e tinha um extremo desejo de as aprender, porque me persuadiram de, por meio delas, poder adquirir um conhecimento claro e seguro de tudo o que é útil à vida. Mal terminei porém, os estudos pelos quais se costuma ser acolhido na classe dos doutos, mudei inteiramente de opinião. De tantas dúvidas e erros me via embaraçado que me parecia não haver tirado outro proveito do procurar instruir-me senão o de ter descoberto mais e mais a minha ignorância. E, todavia, frequentara uma das mais célebres escolas da Europa, onde cuidava existir homens sapientes, se é que existem em algum canto da Terra.»                                          DESCARTES, Discurso do Método                  
« Comprazia-me, sobretudo, com as matemáticas, pela certeza e evidência das suas razões (…). Sobre a filosofia direi que, vendo-a cultivada pelos mais excelentes espíritos que desde há vários séculos viveram e, todavia, nenhuma coisa nela haver sobre a qual não se discuta – por conseguinte, que não seja duvidosa - , não me chegava a presunção de esperar ter nela melhor êxito do que os outros. E considerando como, a propósito de uma mesma matéria, podem  existir várias opiniões defendidas por doutas pessoas sem que nunca possa haver mais do que uma verdade, direi que tomava quase como falso o que apenas era verosímil.»                                                          DESCARTES, Discurso do Método 

O ‘novo’ mundo 




 Sobretudo, nos séculos XV e XVI, quando emergiu na Europa o Renascimento Cultural, uma nova conceção de mundo ou de “cosmos” passou a surgir, associada a vários aspetos
 - uma nova conceção do nosso mundo, a partir dos Descobrimentos marítimos: novos continentes, povos e costumes; 
- uma nova conceção do cosmos (universo), com a decadência da ciência ptolomaica1 (geocentrismo) e a afirmação do heliocentrismo, a partir de Nicolau Copérnico2 .
O universo passa a ser encarado como algo que pode ser compreendido matematicamente e explicado. O papel de Galileu 3 na sistematização dessa conceção revolucionária foi decisivo, já que ele foi um dos primeiros a aperfeiçoar instrumentos técnicos, como o telescópio, para melhor observação dos fenómenos. Foi Galileu também que deu um novo rumo às pesquisas sobre o movimento, com a elaboração da lei da inércia, e recuperou as teses de Copérnico sobre a translação terrestre. A junção entre observação, experimentação e formulação de uma explicação teórica e matemática, constitui o alicerce da ciência moderna, que se forjou sob o signo da Revolução Científica do século XVII.



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1- Cláudio Ptolomeu de Alexandria (90 – 168) que desenvolve a imagem geocêntrica do mundo, já defendida por Aristóteles. 

2- Nicolau Copérnico, astrónomo e matemático polaco (1473-1543) desenvolveu a teoria heliocêntrica que colocou o Sol como o centro do Sistema Solar, contrariando a então vigente Teoria Geocêntrica (que considerava a Terra como o centro). É considerada como uma das mais importantes hipóteses científicas de todos os tempos, tendo constituído o ponto de partida da astronomia. A partir de Copérnico, a hipótese heliocêntrica foi defendida e desenvolvida por Galileu, Kepler, Descartes e Newton, dando origem à Física moderna. 

 3- Galileu Galilei, físico, matemático e filósofo florentino (Florença, Itália) (1564-1642)