domingo, 26 de fevereiro de 2017

Politiquices - A vida depois dos 30 (dias)


   Depois de um polémico primeiro mês que procedeu à tomada de posse (que por si só foi bastante polémica), decidi através do Politiquices fazer um apanhado dos momentos mais marcantes destas últimas quatro semanas que abalaram a comunidade internacional. 
  E para o leitor que acha que um mês é pouco tempo para causar mossa, prepare-se, que hoje iremos mexer com IMENSA papelada, de certa forma para compensar o atraso da rubrica.



 Trump e os media - a tomada de posse com um cheirinho a filosofia sofista

  Como se deve lembrar, estimado leitor, no dia 20 do mês passado foi realizada a cerimónia da tomada de posse do 45.º Presidente dos EUA, Donald John Trump (até dói, de forma figurativa, escrever este nome não-ironicamente). 
   E, como também suspeito que se deva lembrar (se esteve atento à atualidade política nos últimos 10 anos pelo menos), recorda-se do impacto que teve no povo americano a eleição do primeiro presidente de cor.
  Agora, regressando à atualidade, ir-lhe-ei fazer um teste visual (em princípio, sem ilusões óticas). Gostaria que dirigisse o seu olhar para a seguinte imagem:

À esquerda, temos a tomada de posse do Obama em 2009 captada de uma vista aérea. 
À direita, a de Trump.

   Portanto, se confiarmos nas nossas capacidades empíricas, conseguiremos deduzir de imediato que a tomada de posse de Trump deixou um bocadinho a desejar em termos de tamanho do púlpito para o qual se dirigia, em comparação com Obama.

   Ora bem, por mais hilariante que pareça, o executivo de Trump, no dia seguinte, naquela que seria a sua primeira conferência de imprensa, em vez de abordar um assunto estruturante para os EUA ou outro tópico de interesse internacional, decide apenas acusar os media de manipularem os números de espetadores (descartando os que não estavam presentes fisicamente) registados, garantindo que teve a maior audiência "de sempre! Period.

   A não ser que Sean Spicer, porta-voz da Casa Branca, tenha desenvolvido o método cartesiano de tal forma que deixe David Hume a questionar os seus estudos dentro da sua campa, recomendo uma ida ao oculista de forma a que lhe alterem a graduação das suas lentes de contacto, que só deveria estar a ver uma mancha enorme de pessoas. Coitado.


Claramente, tudo fica mais claro com a graduação correta.

   Enfim, a situação ficou de tal forma ridícula só por causa daquelas imagens em comparação, que a conselheira e ex-gestora da campanha presidencial de Trump, Kellyanne Conway, em defesa de Sean Spicer, desistiu de tentar provar a perspetiva de Spicer como sendo verdadeira, porque na verdade ela encontra-se composta por "factos alternativos". Nem os próprios sofistas sofismavam desta forma, sabendo-se que esta situação acabou por agravar as relações entre a Casa Branca e os media (quer dizer, nem toda a gente aprecia ter o seu trabalhado denominado de fake news constantemente, até ao ponto de ser barrado de entrar em conferências de imprensa).



 Trump e as políticas migratórias

   Sabíamos que Donald J. Trump prometeu ao povo americano a contrução do muro sobre a fronteira com o México. Sabíamos que iria impedir a entrada dos refugiados e dos muçulmanos nos EUA. Sabíamos que ia quebrar todo o tipo de acordos que fossem, em seu entender, minimamente negativos para com os EUA. O que não sabíamos (neste caso, darei ênfase a mim mesmo1), é que iria cumprir a palavra honrada. Nem que tivesse sido por um curto momento, cumpriu.

   Nunca pensei escrever isto alguma vez, mas Trump é o único político que desejava que fosse como o estereótipo de todos os funcionários da classe política: "Demagogia acima das ações, porque sem isso não tenho votos". Não é que não seja também o caso de Trump, mas não se aplicou a tudo.

   Ora bem, avançando para este tópico, a 25 de janeiro, Trump assina o decreto presidencial que lança o projeto da construção de um muro na fronteira com o México (para bloquear a entrada dos mexicanos do sul, que os do norte não incomodam assim tanto), e a 27 de janeiro impõe uma mudança na política migratória, ao assinar uma ordem executiva que negou o acesso ao país a refugiados (por um período mínimo de 120 dias) e indivíduos imigrantes de sete países de maioria muçulmana com "um elevado risco terrorista".


Lista de países banidos pela ordem presidencial de 27 de janeiro.

   Apesar de a última ordem ter durado apenas (aproximadamente) 13 dias, houve um caso relacionado, que em particular me chamou a atenção, sendo este o que envolveu o atleta olímpico britânico Mo Farah.
   O que aconteceu, resumidamente, foi o seguinte: tendo nascido num país em que os cidadãos estão banidos de entrarem (neste caso, no país dos piratas, a Somália), foi impossibilitado de visitar a família que vive nos EUA. No entanto, dias antes, tornara-se num dos cavaleiros da Rainha de Inglaterra (o que o faz um "cavaleiro pirata", do género de um corsário inglês do século XVI, se levarmos a sério o estereótipo). Conclusão, a suposta lei que impede a entrada de terroristas, impediu a entrada de cidadãos condecorados e prestigiados internacionalmente. Completamente lógico.

   Portanto, para concluir este segmento, farei minhas as palavras do bicampeão em atletismo olímpico: "A Rainha fez de mim um cavaleiro, Donald Trump tornou-me num alienígena".


 Mo Farah, o cavaleiro-pirata-terrorista e potencialmente um alienígena.

 Trump e a "máquina afinada à perfeição"
 
   Num último tópico destacarei o próprio executivo de Trump, que já sofreu alterações mal começou o mandato.

   No dia 13 de fevereiro, a Casa Branca quebrou o silêncio em relação à polémico em torno de Michael Flynn, conselheiro de segurança nacional, que se encontrava envolvido com uns certos telefonemas realizados com o embaixador da Rússia em Washington, Sergei Kisliak, nos momentos que antecederam a tomada de posse. Estes telefonemas revelaram-se interessantes devido à maneira como Flynn tratava a administração republicana, como sendo menos severa para com Moscovo do que a anterior administração de Obama, nomeadamente em assuntos como as sanções aprovadas após a anexação da Crimeia.

   Uma vez que Flynn mentiu (supostamente) sobre os contactos que tinha realizado com a Rússia, a Mike Pence, vice-presidente da máquina bem-oleada, decidiu demitir-se das suas funções enquanto podia.

   Para além disso, o nosso querido Mr. President regula a sua geringonça não só através de decretos e outras ordens que assina na Sala Oval, como também através das redes sociais, nomeadamente, o Twitter. Com uma média de cinco, reitero, CINCO tweets por dia nos seus primeiros trinta dias de mandato, a estrela dos reality-shows americanos não abdica do vício que revelara ter durante a sua campanha presidencial.


Exemplo de um dos vários tweets publicados diariamente. Tradução: "Poupem o público - Os media das NOTÍCIAS FALSAS está a tentar dizer que a imigração em grande escala na Suécia está a resultar na perfeição. NÃO!"

   Nos dias que antecederam a tomada de posse, um tweet de Trump revelou-se devastador ao ser capaz de fazer entrar em "queda-livre" o valor das ações de mercado da Toyota.


toyota.jpg
Retirado do jornal The Independent, é possível visualizar a descida de 1,2 mil milhões (ou billions em termos americanos) das ações da Toyota, numa questão de minutos.

   Durante o seu mandato, o momento que destaco, queridos leitores, é aquele em que, após ser aprovada a construção do muro na fronteira com o México, Benjamin Netanyahu comenta isto:


Tradução: "O Presidente Trump está correto. Eu construí um muro ao longo da fronteira sul de Israel. Parou toda a imigração ilegal. Grande sucesso. Grande ideia. "

   Benjamin Netanyahu lembra-me a Simone de Oliveira naqueles anúncios do Calcitrin, em que, em particular com uma entrevistadora, começa a falar dos benefícios do Calcitrin como se fosse o segredo do seu sucesso após estes anos todos. Neste caso, basta substituir o produto anunciado por uma parede, a Simone por Netanyahu, e poderia começar a rodar já amanhã o anúncio. Fica a sugestão.


Até já fiz o cartaz. Com um budget baixo, mas fiz.
   Enfim, despeço-me agora, desejando que não seja a última vez a fazê-lo, mas se o mundo acabar até lá, parabenizo desde já a nossa capacidade de sobrevivência após estes primeiros 30 dias. Parabéns, caros leitores!

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