quinta-feira, 27 de abril de 2017




Ad Feuerbach (1845)

Os pilares da filosofia de Marx, admitidos pelo próprio e também por Engels, terão sido a filosofia alemã, o socialismo utópico francês e a economia política inglesa. Da filosofia alemã, destaca-se a influência do idealismo absoluto de Hegel e do materialismo contemplativo e  'romântico' de Feuerbach, ambos concebidos por Marx como superados na sua visão científica do materialismo dialético.                                                                      Em 1884, Marx redigiu o pequeno opúsculo que ficou conhecido, em Portugal, como «Teses sobre Feuerbach», no qual se verifica a passagem de uma dimensão especulativa-crítica da filosofia, para uma dimensão práxica, concebida como projeto filo-político.

I
A insuficiência principal de todo o materialismo até aos nossos dias (o de Feuerbach incluído) é a de as coisas, a realidade, o mundo sensível, serem tomadas apenas sob a forma do objeto  (Objekt) ou da contemplação (Anschauung); mas não como atividade humana sensível, práxis, não subjetivamente. Daí o lado ativo desenvolvido abstratamente, em oposição ao materialismo, pelo idealismo - o qual naturalmente não conhece a atividade sensível real, como tal. Feuerbach quer objetos sensíveis realmente distintos dos objetos do pensamento: mas não toma a própria atividade humana como atividade objetiva. Daí que, na Essência do Cristianismo apenas considere a atitude teórica como a genuinamente humana, ao passo que a práxis é apenas tomada e fixada na sua forma de manifestação sordidamente judaica. Daí que ele não compreenda o significado da ativida revolucionária, de crítica prática.
II
A questão de saber se ao pensamento humano pertence a verdade objetiva - não é uma questão da teoria, mas uma questão prática. É na práxis que o homem tem de comprovar a verdade, isto é, a realidade e o poder, o caráter terreno do seu pensamento. A disputa sobre a realidade ou não-realidade do pensamento - que está isolado na práxis - é uma questão puramente escolástica.
III
A doutrina materialista da transformação das circunstâncias e da educação esquece que as circunstâncias têm de ser transformadas pelos homens e que o próprio educador tem de ser educado. Daí que ela tenha de cindir a sociedade em duas partes - uma das quais fica elevada acima dela.
A coincidência da mudança das circunstâncias e da atividade humana ou autotransformação, só pode ser tomada e racionalmente entendida como práxis revolucionária.
IV
Feuerbach parte do facto da auto-alienação religiosa, da duplicação do mundo num mundo religioso e num mundo mundano. O seu trabalho consiste em resolver o mundo religioso na sua base mundana. Mas que a base mundana se erga acima de si própria e se fixe, um reino autónomo, nas nuvens, é de explicar apenas a apartir da autodivisão e do contradizer-se a si mesma desta base mundana. É esta mesma, portanto, que em si própria tem de ser tanto entendida na sua contradição como praticamente revolucionada. Portanto, depois de, por exemplo, a família terrena estar descoberta como o segredo da sagrada família, é aquela mesma que então tem de ser teoricamente e praticamente aniquilada.
V
Feuerbach, não contente com o pensamento abstrato, quer o conhecimento sensível; mas não toma o mundo sensível como atividade humana sensível prática.
VI
Feuerbach resolve a essência religiosa na essência humana. Mas a essência humana não é uma abstração inerente a cada indivíduo. Na sua realidade ela é o conjunto das relações sociais.
Feuerbach, que não entra na crítica desta essência real, é, por isso, obrigado:
1. a abstrair do processo histórico e a fixar o sentimento religioso por si, e a pressupor um indivíduo abatratamente - isoladamente - humano.
2. A essência só pode, por isso, ser tomada como "espécie", como generalidade interior, muda, que liga naturalmente os muitos indivíduos.
VII
Feuerbach não vê, por isso, que o próprio "sentimento religioso" é um produto social, e que o indivíduo abstrato que ele analisa pertence a uma determinada forma de sociedade.
VIII
Toda a vida social é essencialmente prática. Todos os mistérios que levam a teoria ao misticismo encontram a sua solução racional na práxis humana e no compreender desta práxis.
IX
O mais alto a que chega o materialismo contemplativo, isto é, o materialismo que não compreende o mundo sensível como atividade prática, é à visão (Anschauung) dos indivíduos isolados e da sociedade civil.
X
O ponto de vista do materialismo velho é a sociedade burguesa, o ponto de vista do novo, a sociedade humana ou a humanidade social.
XI
Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes. A questão é transformá-lo.
Trad. do original alemão por Álvaro Pina, segundo o
 manuscrito de Marx, da primavera de 1845.

terça-feira, 18 de abril de 2017

Existencialismos

Introdução ao tema

 O Existencialismo foi um movimento cultural e uma posição filosófica, primeiramente identificada por este nome, por Jean-Paul Sartre. Enquanto que o lado cultural do Existencialismo perdeu-se após os anos 50, as
posições, questões e respostas filosóficas mantêm-se até hoje como tópico de debate filosófico. O existencialismo teve várias figuras importantes, das quais iremos destacar quatro:
  1. Søren Kierkegaard (um dos percursores do Existencialismo);
  2. Friedrich Nietzsche (o outro percursor desta corrente filosófica);
  3. Jean Paul-Sartre (o "pai" deste modo de pensamento);
  4. Albert Camus.
 De todos estes, Camus era associado de Sartre.
 É de notar que Camus rejeita a sua classificação como Existencialista, bem como a de Filósofo.

Søren Kierkegaard e Friedrich Nietzsche

Kierkegaard
 Søren Kierkegaard e Friedrich Nietzsche fundamentaram o Existencialismo através da sua visão sobre o indivíduo. Ambos chegam à mesma conclusão: que a multidão exprime a falsidade. Kierkegaard chega a esta conclusão através do exemplo de Abraão. Quando é pedido a Abraão que mate o seu filho, Deus fala-lhe a um nível pessoal. Ou seja, o "eu" sobrepõe-se ao "nós", algo completamente impensável ao nível da ética e da filosofia em geral. Kierkegaard argumenta que, para a filosofia, o "ego" só tem valor quando se ergue ao universal, através das regras da ética. Porém, a ordem dada a Abraão vai profundamente contra a ética, mas o impulso de Abraão é o de a seguir. Kierkegaard argumenta que tal ação de Abraão não seria compreendida pela filosofia, e seria condenada sob o nome da ética. Porém, como já vimos, Deus fala a Abraão pessoalmente, e, se virmos a sua vida como significante, traz o "paradoxo" pelo qual, através da fé, o indivíduo está acima do Universo. É aqui que aparece o problema da existência: "se há uma dimensão para o meu ser que tem significado e ao mesmo tempo não é governada pela base racional da moralidade, por que base é governada?".
 Kierkegaard sugere o Subjetivismo como resposta a este problema, condenando, finalmente, o universal (a multidão) como sendo a falsidade "em pessoa".


Nietzsche
 Nietzsche, ao afirmar que "Deus morreu!", parece apenas indicar-nos que chegámos a uma era em que a religião é dispensável. Porém, Nietzsche também afirma que quem "matou" Deus fomos nós, seres humanos de carne e osso. Já aqui, Nietzsche coloca o poder nas mãos humanas. Nietzsche porém, é pessimista.
 Nietzsche era um filósofo com um grande foco na Ética, porém, "usava a sua própria definição de Ética", que consistia, não em definir normas morais e éticas para viver uma vida virtuosa, mas sim em procurar uma possível justificação para a vida na Terra.
 A ética nietzschiana afirma que a moralidade é arrogante. Porquê? Por tratar-se de uma necessidade obsessiva de agir de acordo com um conjunto de regras, de modo a que cada um de nós coloque a nossa espécie acima das outras. Nietzsche devolve-nos ao nosso lugar natural, junto das outras espécies.
 Nietzsche ataca ainda mais a Ética e a Moralidade "tradicional" na sua obra A Genealogia da Moral. Afirma que a Moral não passa de uma série de regras desenhadas para domar os instintos criativos do Homem no seu estado natural, bem como a criação de um escudo de valores ascéticos.
 Nietzsche vê o Homem, não como um fim, mas sim um meio para algo "perfeito, completamente terminado, feliz, poderoso, triunfante, que ainda deixa algo a que temer!".
 Relembrando o início, Nietzsche afirma que matámos Deus. Porém, o que poderá substitui-lo? Se o significado do Homem, ao longo das eras, foi Deus, então o Homem não pode substituir Deus, porém, pode ser substituído por algo maior, a contradição de forças, o Übermensch.

Jean-Paul Sartre

Sartre
 Jean-Paul Sartre foi o autor que definiu o Existencialismo. Este filósofo acreditava que existe uma instabilidade dentro do próprio: que está dividido entre ser posicionado como uma união ou e ser visto reflexivamente como uma dualidade. Sartre argumenta que esta falta de auto-identidade ainda é agravada, pois tal é imposto ao Homem como sendo uma tarefa a cumprir.
 Sartre tinha a visão de que "a motivação por detrás da ação é encontrada na natureza da consciência, sendo esta um desejo de ser.".
 Sartre afirma que a existência precede a essência, ou seja, segundo ele, a personalidade não é construída segundo um determinado modelo, mas é o ser humano que escolhe formar a sua identidade pessoal e única, de acordo com estes modelos. Como Sartre diz: "o Homem, primeiro que nada existe, encontra-se, ergue-se no mundo - e define-se depois.".
 Sartre coloca a questão do Existencialismo da seguinte maneira: 'será justo que uma vida com significado de repente, quer por uma grande desgraça, ou por análise pura, possa tornar-se numa vida sem significado? 
 Sartre pode ter sido o principal impulsionador do Existencialismo, porém, não nos deu nenhuma resposta concreta nem definitiva. Deu-nos conceitos tal como o conceito de Liberdade Radical, em que afirma que não temos que respeitar qualquer ordem, por exemplo, pois, no "final das contas", temos sempre a opção de desrespeitar tais ordens. A liberdade é por isso vista no seu total por Sartre. Em vez de nos providenciar com respostas, Sartre afirma que a crise existencial é uma parte integral da vida do Homem.
 Porém, outro filósofo existencialista, escreveu sobre os mesmos temas e, esse sim, deu-nos uma resposta.

Albert Camus

 Albert Camus foi um filósofo francês nascido na Argélia, que focou a sua obra filosófica no absurdo da vida.
Camus 
 Camus escreveu O Mito de Sísifo, que começa da seguinte maneira:
«Existe apenas um único problema filosófico realmente sério: o suicídio. Julgar se a vida vale ou não a pena ser vivida significa responder à questão fundamental da filosofia.»
  Camus afirma isto pois, segundo ele, assim que o Homem começa a pensar seriamente, apercebe-se que, de facto, não há sentido na vida. A negação do sentido da vida que era dado por parte da Igreja e outras instituições religiosas é uma peça central na engrenagem da filosofia de Camus, bem como da maioria dos filósofos existencialistas aqui abordados. Não fomos criados por Deus para satisfazer a sua vontade, com a promessa de que, após a morte, teremos uma recompensa. Somos seres presos num Universo, que, no fundo, não tem sentido.
 Por isso, Camus faz um paralelismo entre o Homem e a figura mítica grega de Sísifo. Sísifo foi castigado pelos Deuses a empurrar uma enorme rocha até ao cume de uma montanha, e, sempre que alcança
o cume, a rocha cai, e Sísifo é obrigado a empurrá-la outra vez até ao cume, onde tudo se repete.
 Porém, Camus rejeita com todas as suas forças o Niilismo, e argumenta que devemos viver, mesmo sabendo que a nossa vida é fútil, sem significado, que seremos esquecidos após a nossa morte, etc.
 E, por isto mesmo, Camus dá-nos a solução numa simples frase: Temos de imaginar Sísifo feliz.



Notas:
(1) Texto original: "man first of all exists, encounters himself, surges up in the world – and defines himself afterwards." Retirado de O Existencialismo é um Humanismo

Bibliografia:
https://plato.stanford.edu/entries/existentialism/#NieNih (acedido a 19-03-17)
http://www.iep.utm.edu/existent/#SH2b (acedido a 19-03-17)
http://poieinkaiprattein.org/philosophy/jean-paul-sartre-s-existentialism-as-answer-to-existential-crisis-by-hatto-fischer/(acedido a 20-03-17) 
http://www.citador.pt/frases/existe-apenas-um-unico-problema-filosofico-realme-albert-camus-11752
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/89/Kierkegaard.jpg
https://pt.wikipedia.org/wiki/Friedrich_Nietzsche#/media/File:Nietzsche187a.jpg
https://en.wikipedia.org/wiki/Jean-Paul_Sartre#/media/File:Sartre_1967_crop.jpg
https://pt.wikipedia.org/wiki/Albert_Camus#/media/File:Albert_Camus,_gagnant_de_prix_Nobel,_portrait_en_buste,_pos%C3%A9_au_bureau,_faisant_face_%C3%A0_gauche,_cigarette_de_tabagisme.jpg
https://www.youtube.com/watch?v=jQOfbObFOCw
 

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Com que então queres ler filosofia?: O Anticristo, F. Nietzsche

Introdução à coluna

 Esta coluna dedica-se a facilitar o primeiro contacto de jovens (e não só) com obras filosóficas, através da explicação de conceitos essenciais para a sua boa e acertada compreensão.

O Anticristo

Versão utilizada como referência:

Versão da Edições 70, Coleção "Textos Filosóficos"

Clique aqui para visualizar no site da Bertrand.


De que fala esta obra?

O Anticristo é uma das últimas obras que Friedrich Nietzsche publica em vida. Tal é fácil de notar, não só pelas ideias concretas que Nietzsche já tem sobre o tópico em questão, como pelo estilo de escrita caracteristicamente nietzscheano.
 A obra fala sobre o Cristianismo e o efeito de degradação que este teve sobre a sociedade. Nietzsche mostra claramente o seu ódio por tudo o que é cristão nesta obra, sendo por isso uma das melhores obras para iniciantes de Nietzsche.

O que torna esta obra notável para iniciantes?

 A obra é extremamente boa para iniciantes devido não só pelo estado já concreto e coeso das ideias de Nietzsche, mas também pelo seu estilo de escrita apelativo e, por vezes, humorístico "com o pé na frente de batalha".
 É também um livro curto, tendo a minha edição do livro apenas 88 páginas, sem contar com uma pequena adenda no final.

 Todos estes fatores tornam esta obra extremamente apelativa.
 Porém, tal não quer dizer que, por vezes, não seja difícil de ler. Por isso, não só é aceitável, como também é recomendado, ler as passagens mais difíceis outra vez, até se compreender melhor o que o autor queria dizer.
Friedrich Nietzsche
 Esta dificuldade de leitura é, por vezes, causada pela fraca saúde mental de Nietzsche, que, na altura da publicação do livro, já tinha começado a sua última queda até à total demência (que, no seu seguinte livro, que li e não recomendo, Ecce Homo, se mostra na sua plenitude(1)).

Conceitos essenciais

A inversão da moral

 Nietzsche acreditava que o único sistema funcional que não gera décadence é um sistema em pirâmide, em que os fortes estão no topo, e os fracos na base. Os fortes têm, segundo ele, todo o direito de serem considerados superiores.
 Porém, Nietzsche considera que os Judeus e os Cristãos, por quererem desesperadamente poder, inverteram a pirâmide, fazendo com que as suas falhas fossem vistas como virtudes (e.g. a falha de não ter sexo passou a ser vista como símbolo de pureza, e algo que agradava a Deus).
 Esta inversão da pirâmide é alvo de variadas críticas de Nietzsche, que acredita que ao se dar esta inversão se criou uma moral de escravos, em que os fracos dominam os fortes através da moral, e, mais importantemente neste caso, da religião.
 As tentativas de estabelecer direitos iguais para todos são também vistas como algo de mau por parte de Nietzsche:
«(...)a desigualdade dos direitos é a primeira condição para que em geral haja direitos.»(2)

"Deus está morto"

 O conceito da morte de Deus não é encarado literalmente por Nietzsche, mas sim figurativamente, no sentido em que Deus, e a religião no geral, já não são necessários para guiar moralmente o Homem. Em vez disso, o Homem deve-se aproximar da ciência e de outros fatores que nos podem guiar moralmente.
 Esta aproximação é absolutamente necessária, visto que, assim que a religião é eliminada, aos olhos de Nietzsche, já não existem valores absolutos religiosos que guiem os Homens, o que levará a Niilismo em massa, algo que Nietzsche tenta procurar, ao longo da sua obra, a solução para.

Nietzsche não era anti-semita

 Após a leitura do livro, existem passagens que causam a suspeita de que Nietzsche era anti-semita. O seu ódio pelos Judeus parece evidente. Porém, quando Nietzsche se refere aos Judeus, e, numa certa passagem, à herança judaica, ele refere-se à religião Judaica e aos modos de vida criada por esta. Nietzsche vê os Judeus não como escumalha (ou, nos seus termos, tchandala), mas talvez como um povo que foi corrompido pela natureza da sua religião. O ódio de Nietzsche estende-se a todas as religiões ocidentais (e talvez orientais), devido à maneira como dominaram o Homem e criaram a moral de escravos.

O ataque aos apóstolos

 Nietzsche ataca os apóstolos pois, segundo ele:
«(...)no fundo, só existiu apenas um único cristão, e esse morreu na cruz.»(3)
 Os apóstolos são considerados por Nietzsche como oportunistas à procura de poder. O apóstolo mais atacado por Nietzsche durante O Anticristo é Paulo, que, segundo Nietzsche, se apercebeu de que era necessário afastar o homem da liberdade e da ciência, e que a única maneira de o fazer era através da fé.
«A fé, enquanto imperativo, é o veto contra a ciência - in praxi, a mentira a todo o custo... Paulo compreendeu que a mentira - a «fé» - era necessária; a Igreja, mais tarde, compreendeu de novo Paulo.»(4)
 Nietzsche considera também que Paulo:
«(...) (tomou) a decisão ousada (...) em chamar «Deus» à sua própria vontade (...)»(5)
 Com isto, Nietzsche tenta demonstrar a corrupção existente no Cristianismo desde a sua fundação.

O ódio ao dualismo

 Um dos principais ódios de Nietzsche era o dualismo, ou seja, a separação filosófica da alma e do corpo, em que a alma é normalmente posta acima na hierarquia. Tal tradição acompanha os principais pensamentos filosóficos desde o tempo de Sócrates, e está presente na religião cristã. Esta é uma das várias razões do ódio de Nietzsche ao Cristianismo.

Nota final

 Espero que este artigo ajude a iniciar pelo menos uma pessoa ao mundo da filosofia, não só Nietzscheana, mas também no geral.
 Peço feedback, e sugestões para mais livros para eu cobrir nesta coluna. 

 

Referências

http://static.fnac-static.com/multimedia/PT/images_produits/PT/ZoomPE/8/2/2/9789724413228/tsp20110204202333/O-Anticristo.jpg

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/1/1b/Nietzsche187a.jpg/800px-Nietzsche187a.jpg 

Nietzsche, Friedrich "O Anticristo", Edições 70, Agosto de 2016


(1) Tal é discutível, pois afirma-se que Nietzsche escreve Ecce Homo da maneira mais incoerente e irónica possível, de forma a que não o compreendessem (talvez para não ser tomado como um "messias").
(2) Pág.80
(3) Pág.52
(4) Pág.64
(5) Ibid


sábado, 8 de abril de 2017

A Nova Esquerda: Políticas de Identidade, Foucault, e o porquê do seu inevitável fim

Nota inicial

 Neste artigo pretendo estabelecer, de forma sucinta e simples, o nascimento da Nova Esquerda e os problemas inerentemente associados a este movimento. Tentarei também mostrar a minha perspetiva mais "ortodoxa", bem como alguns simples argumentos.
 Espero que este artigo seja recebido de forma crítica, qualquer manifestação de ódio de um apoiante das políticas de identidade será uma pequena vitória. Mas, maior vitória será ainda a educação da população geral sobre o tema. Não pretendo ser um agent provocateur, mas sim um educador. Comecemos.

Nova Esquerda

O que é, afinal, a Nova Esquerda?

 A Nova Esquerda é a denominação dada aos vários grupos que se auto-denominam esquerdistas, e que têm, no geral, como principal foco, a eliminação e purga de problemas sociais (e.g. racismo, sexismo, homofobia, transfobia). A Nova Esquerda surgiu na década de 60 e é amplamente conhecida pelo uso do ativismo social como meio para atingir a justiça social.
 Por isto, a Nova Esquerda crê na existência de lutas múltiplas dentro da sociedade capitalista, conceito adotado de Michel Foucault.

Michel Foucault

 Michel Foucault foi um filósofo pós-estruturalista que se focou na filosofia política.
Michel Foucault
 Foucault chegou a ser  membro do Partido Comunista Francês, mas saiu deste partido rapidamente, devido ao apoio incondicional que estes davam à União Soviética. Foucault via a União Soviética e o seu Estalinismo, como sendo a definição de comunismo, erradamente. Mais tarde na sua vida, Foucault radicalizou-se um pouco, tendo ajudado radicais de esquerda enquanto residia na Tunísia.
 Ao longo da sua vida, as suas teorias não foram consistentes, mas a sua visão negativa da Esquerda Marxista manteve-se (apesar de Sartre ter tentado estabelecer um Partido Comunista verdadeiramente Marxista em França). Por isto, Foucault afastou-se da Esquerda Marxista, e, consequentemente, da Esquerda Radical.
 As suas teorias incluíam conceções tais como o conceito de que o poder corrompe, que a evolução tecnológica e social não trouxe melhores condições de vida, especialmente em termos sexuais, etc.
 Porém, a sua teoria que nos interessa no presente artigo é que existem múltiplas lutas para serem lutadas na sociedade capitalista atual.


Em que se distingue a Nova Esquerda da "Velha Esquerda"?

 De uma forma muito geral, enquanto a "Velha Esquerda" se foca na economia, e nos seus efeitos diretos e indiretos na população, a Nova Esquerda foca-se diretamente em problemas sociais tais como, como já referido, o racismo e o sexismo. Existem vários grupos de Nova Esquerda que não têm como objetivo "mandar abaixo" a sociedade capitalista, algo impensável na "Velha Esquerda".

Opinião

 A Nova Esquerda está destinada a falhar. A luta que eles enfrentam é demasiado difícil de conseguir executar corretamente na presente sociedade. Daqui surge o meu primeiro argumento: se derrubarmos primeiro o capitalismo, teremos muito melhores condições para eliminar todo o tipo de desvantagens.
 Outra coisa que me apoquenta é o completo fechar de olhos ao trabalhador. A Nova Esquerda foca-se em "privilégios" que os homens, brancos, cis, heterossexuais, etc., têm. Porém, se um trabalhador a que se apliquem todos estes termos, trabalhar em condições absolutamente precárias, terá ele assim tantos privilégios? Porque é isto assim tão importante? Porque no capitalismo o ser humano não é, de facto, um ser humano. O sistema não se interessa se somos homossexuais, heterossexuais, negros, brancos, etc., etc. O que interessa ao sistema é a nossa capacidade de produção, a nossa mão-de-obra, e como explorar essa mão-de-obra com o máximo de lucro. O único privilégio na (e aos olhos da) sociedade capitalista é o de não trabalhar e de viver à conta de outrém. Os restantes são todos explorados.
 Por fim, a Nova Esquerda tem de se aperceber de que o trabalhador é o elo mais forte da luta, devido à sua capacidade, de, através da greve, parar completamente o sistema. Os burgueses não conseguem lucro se nós não trabalharmos.
 Se a Nova e a "Velha" Esquerda se unissem, não haveria como parar os interesses dos trabalhadores, porque, se há algo que todos (ou quase todos) na esquerda têm em comum, é serem membros da classe mais baixa, e terem que vender o fruto do seu trabalho.


 

terça-feira, 4 de abril de 2017

Politiquices - Aeroporto Quê?!?! (e outras infraestruturas)

   Após um hiatus feito para realizar o resto dos objetos de avaliação, esta rubrica regressa para analisar no contexto português a nomenclatura de infraestruturas devido a polémicas relacionadas com o novo nome do aeroporto da Madeira.

Nomenclaturas ao longo dos anos

    Em Portugal, a regra geral é atribuir nomes a infraestruturas com o intuito de homenagear alguma figura importante para a nossa história enquanto sociedade. Temos como exemplo o Viaduto Duarte Pacheco que conecta a Serra de Monsanto a Lisboa, homenageando uma figura importante que contribuiu para o planeamento organizado da cidade de Lisboa; e, dentro da localidade de Alcochete, o miradouro Amália Rodrigues, que homenageia uma das mais importantes figuras na história de Portugal no campo da música.

Promoção não afiliada ao município de Alcochete, mas agradecia o pagamento em notas.

    Ora bem, isto tudo é muito bonito e tal, mas às vezes nós portugueses temos um dom especial para a ironia. 
    Exemplo disso, é o Aeroporto Francisco Sá Carneiro. Porquê? Pois bem, como se deve recordar o leitor, o antigo primeiro-ministro e fundador do Partido Social Democrata, Francisco Sá Carneiro, em dezembro de 1980 faleceu numa viagem de avião de Lisboa ao Porto. Portanto, na sua situação, pense como se sentiria o leitor se lhe fosse possível saber que foi dado o seu nome a um aeroporto, ainda por cima àquele a que se dirigia. É uma figura de estilo tramada, a ironia.

Pobre Francisco, a sofrer de figuras de estilo após a morte.
    Então, depois desta sucinta análise, avancemos para o que interessa.

O problema levantado com a alteração do nome do aeroporto

    A alteração do nome do aeroporto do Funchal não foi de todo consensual.

     Quem se opunha lembrava a influência de Cristiano Ronaldo no arquipélago, já tendo previamente uma estátua, uma praça e um hotel com o seu nome. Para além disso, reforçavam o facto da sua imagem já estar por demais divulgada e ligada à ilha do Funchal, para além de já pertencer ao governo regional muito antes de ele ter nascido. Portanto, reforçam o facto de ser uma vedeta, de ainda ter muita vida pela frente e poder vir a sujar o nome da Madeira.

Penso que o colega Paulo Futre tenha fornecido algumas substâncias dos seus anúncios à estátua... O rapaz só arranja escultores estranhos.

     No entanto, eu, enquanto escritor amador e cidadão português acima de tudo, concordo com a alteração feita, na medida em que o rapaz já tem tanta fama, a imagem dele já está tão divulgada, que dar o nome dele a um aeroporto é só aproveitar esse reconhecimento positivo para mobilizar mais turistas internacionais e tornar mais movimentada esta infraestrutura. O homem é um herói na sua profissão, mesmo que esta não lhe dê prestígio literário, não contribua para a saúde dos portugueses e até não o torne mais importante do que outras figuras da história de Portugal. AGORA, há algo que não pode ficar sem ser mencionado...

RÁPIDO, VOLTEM A DESCER O PANO.

    Apetece-me proferir algum impropério. Mas que raio é isto suposto representar? Isto parece daquelas piadas do dia das mentiras adiantadas que obrigam as pessoas a ver o calendário de propósito outra vez só para ter a certeza. Pelo menos sempre é melhor ter um busto assim do que ser assessor do presidente Marcelo Rebelo de Sousa. É preciso uma formação nos Comandos só para conseguir acompanhar os lugares para onde ele vai num só dia.

O relâmpago da Jamaica não consegue estar em mais lugares ao mesmo tempo do que o nosso presidente Marcelo.

      Já viram quantas vezes é que o homem aparece na televisão nacional? É uma diferença da noite para o dia em relação ao Cavaco. Esse agora está mais entretido a escrever livros sobre dias de semana e a publicá-los nesses mesmos dias. Coerência acima de tudo, assim sim, bem podia ter sido assim quando foi presidente, mas enfim.

Está certo.

     Despeço-me então, esperando regressar com alguma brevidade para divagar sobre a atualidade política que assombra a nossa sociedade.

P.S.: Será que fui o único que pensava que o facto do Mário Centeno ter sido sondado pelo Eurogrupo na procura de um presidente novo era uma mentira de 1 de abril muito elaborada, para no dia a seguir descobrir que era verdade? Afinal, o homem mal consegue falar sem estar na presença do seu tutor legal. Oh well...


"Vê-lá Mário! Hoje é um dia importante, não estragues tudo!" - António Costa, momentos antes de anunciar a venda do Novo Banco