quinta-feira, 15 de junho de 2017

Guia compreensivo para o estudante: 10º ano, Ensino Regular - Aula θ (1)

Aviso

 Nesta lição trataremos da religião. Porém, este estudo poderá ser, segundo o currículo de Filosofia do 10º ano, pelo estudo da estética. Para tal lição, verifique-se a lição θ (2).

Religiões a estudar

 Existem inúmeras religiões espalhadas um pouco por todo o mundo. Porém, neste artigo, iremos explorar as chamadas Religiões reveladas ou Religiões do livro. Estas religiões são:
  • Judaísmo;
  • Cristianismo;
  • Islamismo.
 Estas religiões têm várias diferenças, porém, também têm várias semelhanças. Estas semelhanças incluem o facto de serem religiões monoteístas, ou seja, admitem a existência de um único Deus, que é absoluto e verdadeiro, e o facto de possuírem um livro sagrado, que contém a palavra de Deus.

Para que são necessárias as religiões?

 A necessidade das religiões é normalmente descrita como sendo o facto de dar sentido à vida. Isto provém do facto que religiões como, por exemplo, o Cristianismo, dizerem explicitamente que existe vida após a morte, e que existe, neste caso, um Paraíso e um Inferno.
 Para além disto, Deus é visto como tendo criado tudo com um propósito, e é também visto como tendo prometido uma recompensa (o Paraíso) para os que cumprem Sua vontade. Cumprir a vontade deste ser superior e ser, por isso, recompensados com uma vida após a vida terrena é visto como uma maneira de estabelecer um significado para a vida pelos religiosos.

Posições sobre a existência de Deus

 Existem várias posições relativamente à existência de Deus, que se englobam em três categorias:
  • Deus existe - Teísmo, Deísmo, Panteísmo, Fideísmo;
  • Não se sabe se Deus existe - Agnosticismo;
  • Deus não existe - Ateísmo.
 Aprofundemos as posições que defendem que Deus existe.
  • Teísmo - Deus é exterior e superior ao mundo, e é o seu criador.
  • Deísmo - Deus criou o mundo, porém, não interfere com ele presentemente.
  • Panteísmo - Deus é o Mundo em si. Tudo e todos compõem um Deus abrangente, e o Universo é idêntico a Deus.
  • Fideísmo - A razão e a religião são incompatíveis. Defendido pelo filósofo Søren Kierkegaard.

Argumentos religiosos

 Estudarás três argumentos a favor da existência de Deus. Vejamos:
  • Argumento ontológico: Se Deus é um ser perfeito, pode ser imaginado, e a existência é mais perfeita do que não existência, então Deus necessariamente terá que existir.
  • Argumento cosmológico: Este argumento diz-nos que tudo teve de ter uma origem (princípio causa-efeito), e, visto que o Universo existe, teve de ter uma origem, que é Deus.
  • Argumento do Desígnio: Este argumento compara o mundo a um relógio, e pode ser expresso da seguinte maneira:
  1. «O relógio, pela sua complexidade e pelo modo como está ordenado, é uma máquina que tem que ter um autor e construtor inteligente, com capacidades proporcionais à sua obra — o relojoeiro humano.»
  2. «O mundo, pela sua complexidade e pelo modo como está ordenado, é como um relógio.»
  3. «Logo, o mundo também tem que ter um autor e construtor inteligente, com capacidades proporcionais à sua obra — o relojoeiro divino (Deus).(1)

Argumento de Kant (agnóstico)

  • Para Kant, Deus não pode ser conhecido, logo é somente uma "ideia". Porém, se podemos imaginar um ser sumamente perfeito e sumamente bom, temos o Dever de viver como se ele existisse.

Argumento ateu

  • Argumento do mal: Se Deus é sumamente bom, omnisciente, e omnipotente, porque existe mal no mundo? Se ele desconhece o mal, então não é omnisciente. Se conhece o mal mas não o consegue corrigir, então não é omnipotente. Finalmente, se conhece o mal mas não o corrige, então não é sumamente bom.
  • Os ateus colocam ainda o ónus da prova nos religiosos, ou seja, são os religiosos que devem apresentar as provas da existência de Deus, e não os ateus a provar que Deus não existe.  

Exercícios

1 - Qual dos argumentos religiosos compara o mundo a um relógio?
2 - Que filósofo argumentou que Deus é somente uma "ideia"?
3 - Qual é o outro nome das Religiões reveladas?

Resolução

1 - Argumento do Desígnio.
2 - Immanuel Kant.
3 - Religiões do livro.

Notas

(1) - Retirado de http://criticanarede.com/fil_designio.html

Bibliografia

https://www.gotquestions.org/Portugues/argumento-ontologico.html
http://criticanarede.com/fil_designio.html

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Guia compreensivo para o estudante: 10º ano, Ensino Regular - Aula η

Ética e moral

 Apesar de parecerem semelhantes, a ética e a moral têm importantes distinções.
 Ambas podem responder à pergunta «O que devo fazer?», mas respondem de maneiras diferentes.  Exploremos então em maior detalhe este tema.
 Primeiro, há que notar que, para se responder à pergunta acima colocada, temos que ter como pressuposto que existe livre-arbítrio, afinal, se tudo estivesse determinado, não faria sentido colocar esta questão.
 Enquanto a moral formula normas e regras que devemos aceitar (ou seja, é normativa), e pretende apresentar o que é mais correcto (ou seja, é prescritiva), a ética é reflexiva, filosófica, e especulativa.
 A ética tenta descobrir e revelar os princípios orientadores da ação, e, assim, chegar aos fundamentos da moral e a soluções para problemas e dilemas morais.
 Pelo contrário, a moral dá-nos diretamente códigos de conduta.

Direito e ética

 Existem duas definições para a palavra "direito":
Mahatma Gandhi
  • O direito de ter algo, fazer algo, etc. (O José tem direito a comer um chocolate.);
  • O conjunto das normas públicas que definem os direitos individuais e os deveres de uma comunidade (O José tem direito ao fundo de desemprego segundo as leis [os Direitos] de Portugal).
 Nota que, na segunda definição da palavra, Direito aparece com a primeira letra maiúscula. Isto deve-se ao facto de, quando queremos distinguir entre as duas definições, capitalizamos a primeira letra, no caso de estarmos a falar da lei de determinada comunidade.
 Apesar do Direito ter os seus fundamentos na ética, existem várias ocasiões em que o Direito permite algo que é eticamente reprovável. Alguns indivíduos, alguns extremamente conhecidos como Mahatma Gandhi, respondem a estes problemas utilizando a desobediência civil.
 A desobediência civil é o ato público e pacífico de não cumprir uma lei, que é considerada pelo indivíduo em questão como sendo injusta eticamente para a população em geral, com o fim de levar os legisladores e governantes a repensar a lei, e, eventualmente, modificá-la ou revogá-la. Um exemplo de desobediência civil ocorreu na altura da independência da Índia, Paquistão, e o que seria mais tarde o Bangladesh, quando Gandhi e seus seguidores usaram a desobediência civil para conseguir a tão desejada independência da potência colonial que era o Império Britânico.

Política

Questões políticas

 A filosofia política preocupa-se com três tópicos:
  1. Justificação do Estado;
  2. Lei;
  3. Justiça social.
 Existe um objetivo comum a todos os filósofos que se ocupam deste tema: o bem-estar, quer seja do indivíduo - através da Ética, pois trata-se de respeitar a individualidade e subjetividade - ou do cidadão - através da política, pois o cidadão faz parte de uma comunidade.

Teorias para a justificação do Estado

 Estudarás duas teorias para a justificação do Estado: a teoria da origem natural, defendida por Aristóteles (denominada de Naturalismo Político), e a teoria da origem contratual, defendida por vários filósofos, dos quais estudarás apenas Hobbes, Locke e Rawls (denominada de Contratualismo).

Naturalismo Político

 Para compreendermos corretamente a explicação que se segue temos de conhecer um termo e a estrutura política na altura de Aristóteles:
Aristóteles
  • A sociedade grega tratava-se de uma sociedade esclavagista.
  • Apenas os cidadãos tinham direito ao voto, sendo que apenas homens, maiores de idade, e filhos de pais da cidade-estado em questão (neste caso, Atenas) eram considerados cidadãos.
  • Polis: O nome que se dava às cidades-estados.
 Aristóteles defende que a polis surgiu de origem natural. Primeiro, homem e mulher uniram-se com o intuito da reprodução, e o mestre e o escravo juntaram-se com o intuito da auto-preservação. O mestre usou o seu intelecto para governar, e o escravo as suas capacidades físicas para trabalhar.
 De seguida, a família surgiu naturalmente de forma a servir as necessidades do dia-a-dia. Após isso, também de acordo com a natureza, as famílias juntaram-se, devido a mais e novas necessidades, numa aldeia. Finalmente, forma-se a cidade, que «é uma comunidade completa, formada a partir de várias aldeias e que, por assim dizer, atinge o máximo de auto-suficiência. Formada a princípio para preservar a vida, a cidade subsiste para assegurar a vida boa.»(1)
 Conseguimos aqui observar que Aristóteles considerava a escravatura como algo natural, e também a superioridade do homem sobre a mulher.

Contratualismo de Hobbes e de Locke

 O contratualismo consiste, no geral, em afirmar que o Estado surgiu por meios de um "contrato social", em que os indivíduos concordaram em criar um Estado como meio de proteção pessoal, e pôr assim fim ao estado natural (em que todos eram totalmente livres e absolutamente iguais).
 Para os contratualistas existem três direitos básicos do Homem:
  • O direito à vida;
  • O direito à liberdade;
  • O direito à propriedade.
 Falaremos agora de dois dos três filósofos contratualistas do currículo do 10º ano: Thomas Hobbes e
John Locke.

Thomas Hobbes

Thomas Hobbes
 Hobbes acreditava que «o Homem é o lobo do Homem», ou seja, que o estado de natureza consistia num estado de extrema insegurança, e que correspondia à constante ameaça e à guerra de todos contra todos.
 Thomas Hobbes considerava que, no estado natural, nenhum direito fundamental era respeitado, e, por isso, o medo da morte levou os Homens a criar um estado absoluto, em que o soberano é todo-poderoso.
 Hobbes defendia que este sistema era o melhor possível, e que o contrato social, uma vez "assinado", não era revogável, nem reconhecia o direito de revolução ou rebelião. Qualquer tipo de tentativa de destronar o soberano deveria ser esmagada.
 Para Hobbes, as leis tinham origem na vontade suprema do soberano, e que este está acima da lei.

John Locke

John Locke
 Locke vai contra Hobbes em vários aspetos. Por um lado, John Locke acreditava que o estado de natureza é um estado de paz, boa vontade e de assistência mútua, mas em que não se respeitava o direito de propriedade. Era este desrespeito por um direito aparentemente tão essencial que levava o Homem a "assinar" o contrato social.
 Locke defendia um estado de direito liberal, em que as leis têm origem na intenção de preservar os três direitos fundamentais do Homem.
 Por fim, Locke defendia que o contrato social é revogável, se, e apenas se, o governante desrespeitar a lei.

Justiça social

 O termo «justiça social» refere-se à questão: «Como devem ser distribuídos, numa sociedade verdadeiramente justa, quer os benefícios, quer os custos?».
 Existem, no geral, duas formas de responder a esta questão. A primeira é o Igualitarismo, e a segunda é o Liberalismo.
 O Igualitarismo defende que a Igualdade deve ser total, e que o estado deve ser o representante do Bem Comum, e deve possuir mecanismos de intervenção económicos e sociais.
 O Liberalismo defende a liberdade quanto toca aos três direitos básicos do Homem, e advoga a favor de um estado fraco e não interventivo.

John Rawls

 John Rawls foi um filósofo do século XX e do início do século XXI que defendia o Liberalismo Social, e apresentou-nos a sua ideia de equidade.
John Rawls
 Rawls é considerado como um liberal pois defendia, como veremos mais abaixo, a Liberdade Individual acima de tudo. Este filósofo também se opunha ao Igualitarismo, pois considerava que era admissível, e até desejável, um certo grau de desigualdade, com o fim de aumentar a produção e riqueza.
 John Rawls começa a sua filosofia analisando as democracias liberais contemporâneas (e.g. EUA).
 Este filósofo pede-nos para imaginarmos uma situação de partida para o acordo contratualista, a que ele chama de posição original, na qual somos agentes racionais, mas desconhecemos qual vai ser, depois do acordo, a nossa posição social (ou seja, se seremos ricos, pobres, mestres, escravos, etc.). Desconhecemos ainda a nossa raça, sexo, nacionalidade e posições filosóficas, mas conhecemos os "ingredientes" necessários para uma boa vida para a população no geral.
 Desta maneira, ao "assinarmos" o contrato social seremos forçados a pensar e a formar a sociedade de uma maneira o mais imparcial o possível.
 Porquê? Imaginemos que, ao "assinar" o contrato social, um indivíduo defendia a escravatura, e era formada a sociedade com esse princípio em mente. Poderia, depois, "cair a sorte" a esse indivíduo de ele vir a ser escravo.
 Rawls defendia que os seguintes princípios deveriam ser postos em prática numa sociedade, mais ou menos nesta ordem(2):
  1. Princípio da Igual Liberdade: A sociedade deve assegurar a máxima liberdade para cada indivíduo, sendo esta liberdade compatível com a dos demais.
  2. Princípio da Diferença: As desigualdades económicas e sociais serão "manipuladas" de modo a favorecer os mais necessitados.
  3. Princípio da Oportunidade Justa (ou da Igualdade de Oportunidades): As desigualdades económicas e sociais devem estar ligadas a postos, posições e cargos acessíveis a todos, em condições justas de igualdade e de oportunidade.

Robert Nozick

  Nozick era um Libertário radical, que se opôs a Rawls, por considerar que o Princípio da Diferença violava os princípios da liberdade e da propriedade.

Robert Nozick

Exercícios

1) Qual foi o filósofo que se opôs a Rawls, defendendo o Libertarismo radical?
2) Que filósofo defendeu o Naturalismo político?

Resolução

1 - Robert Nozick
2 - Aristóteles

Notas

(1) - Aristóteles, Política (Edição Bilingue)(I.2.1252b27–30)
(2) - O segundo e o terceiro princípios por vezes são trocados de lugar.

Bibliografia

https://www.priberam.pt/dlpo/prescritiva
https://www.priberam.pt/dlpo/normativa
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/d/d1/Portrait_Gandhi.jpg/800px-Portrait_Gandhi.jpg
https://plato.stanford.edu/entries/aristotle-politics/supplement3.html
Pedro Galvão, António Correia Lopes: Preparação para o Exame Final Nacional Filosofia 11º ano
Aristóteles, Política (Edição Bilingue)
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/62/Aristotle_Altemps_Detail.jpg
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/d/d8/Thomas_Hobbes_%28portrait%29.jpg/220px-Thomas_Hobbes_%28portrait%29.jpg
https://pt.slideshare.net/filosofiaesjs/concepes-de-justia-e-john-rawls
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/3/3d/John_Rawls.jpg
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/1/1d/Robert_nozick.jpg

segunda-feira, 12 de junho de 2017

Guia compreensivo para o estudante: 10º ano, Ensino Regular - Aula ζ

Ética

 A ética é o ramo filosófico que estuda as ações e como devemos agir.
 Fazem parte do currículo do 10ºano duas teorias do ramo da ética: a teoria de Immanuel Kant e a teoria de John Stuart Mill. Iremos aprofundar, primeiramente, a de Kant. Comecemos.

A teoria ética de Immanuel Kant

Conceitos básicos

 A teoria de Kant baseia-se em classificar o valor ético de uma ação em função da intenção com que foi realizada, inserindo-se assim no "sub-ramo" das teorias deontológicas (nome que provem do grego «deontos» - dever). Kant, e os outros deontologistas, acreditavam que apenas é correto julgar as ações de alguém, de um ponto de vista ético, através das suas intenções, pois apenas estas são controladas pelo agente em questão.

O dever

Immanuel Kant
 Kant acreditava que uma ação apenas é moralmente correcta se a nossa única motivação for o cumprimento do dever. Desta forma, se realizarmos qualquer ação que pareça moralmente correta, mas com algum fim que não cumprir o dever em mente, esta ação torna-se imediatamente incorrecta.
 Por exemplo, a seguinte situação:
  • Uma velhinha, com uma nota de cinco euros na mão, está com dificuldades a atravessar uma rua.
 Alguém que ajudasse a velhinha a atravessar a rua estaria certamente a ser moralmente correcto, certo? Não é assim tão simples, pois a motivação por trás da ação poderia ser incorrecta.
 Por exemplo, se o José ajudasse a velhinha a atravessar a rua, com a motivação de tentar conseguir a nota de cinco euros como recompensa, estaria a agir de uma forma moral e eticamente incorrecta.
 Pelo contrário, se o Carlos ajudasse a velhinha a atravessar a rua, apenas porque tal é o seu dever, estaria a agir correctamente, de acordo com a Ética Kantiana. A este último caso chama-se agir por dever.
 Há ainda o agir conforme o dever. Por exemplo, se nós pagamos os nossos impostos, apenas porque desejamos ser respeitados, receber benefícios, etc., estamos a agir conforme o dever (pagar os nossos impostos). Pagar os impostos apenas por ser o nosso dever, sem ter em mente o respeito que poderá ser ganho ou os benefícios que poderemos receber, é agir por dever.

Imperativo categórico e imperativos hipotéticos

 Kant sugere-nos também a sua ideia do imperativo categórico, com três formulações mais ou menos equivalentes. Mas primeiro temos que compreender o que são os imperativos hipotéticos.
 Imperativos hipotéticos são imperativos cujas regras temos que seguir para conseguir algo. Por exemplo, para sermos pianistas temos que seguir o imperativo hipotético de ter aulas de piano, por exemplo. Podemos resumir este imperativo como:
  • Tem aulas de piano se desejas ser pianista. 
 Prestemos especial atenção ao "se", indicador de um imperativo hipotético. Se não desejarmos ser pianistas, simplesmente não seguimos este imperativo. Daí provém o nome "hipotético", pois é necessário que se tenha preenchido uma condição/hipótese (querer ser pianista), para o seguir.
 O imperativo categórico é diferente, pois deve ser seguido em todas as ocasiões.
 A formulação mais comum do imperativo categórico é a seguinte:
  • Age de tal modo que a máxima da tua ação se possa tornar princípio de uma legislação universal.
 O que significa isto?
«Quando Kant diz "(...)a máxima da tua ação(...)", ele refere-se à intenção do agente na altura de executar a ação.
  "(...)se possa tornar princípio de uma legislação universal." refere-se ao facto de a nossa ação poder ser aceitável se for aplicada por todos os Homens da mesma maneira. Ou seja, imaginemos uma ação x. Se todos os Homens poderem executar x, e esta ação x se poder tornar uma lei universal (ou seja, não for prejudicial ao Homem, tanto indivíduo como no geral), podemos dizer que tal ação está de acordo com o Imperativo Categórico.»(1)

Ora, vejamos um exemplo:
Schutzstaffel, a polícia nazi que, supostamente, procuraria o Albert.
  • Imaginemos que vivemos na Alemanha sob o governo de Hitler. A polícia bate-nos à porta, e pergunta se vimos o Albert, um judeu que estamos a esconder em nossa casa, e que a polícia alemã pretende matar. O que fazemos?
 Kant responderia da seguinte maneira à questão:
  •  Ao dizermos que não vimos o Albert, estaríamos a mentir, o que vai contra o imperativo categórico, visto que se mentir se tornasse uma legislação universal, e todos os Homens seguissem este princípio, o mundo cairia no caos absoluto. Logo, temos que dizer que o vimos, e indicar onde ele está. 

 Outra formulação do imperativo categórico é a seguinte:
  • Trata sempre as pessoas como fins em si, nunca como meros meios. 
 Explicarei isto por meio de um exemplo. Uma amizade que alguém cria com um fim em mente (e.g. ganhos monetários) trata-se de utilizar uma pessoa como um meio. pelo contrário, a verdadeira amizade, em que vemos a outra pessoa como alguém com ideias, emoções, desejos e liberdade individuais, trata-se de tratar alguém como um fim em si.

Críticas à ética kantiana  

  1. Não resolve conflitos entre deveres: Como observamos anteriormente, a ética kantiana pode-nos dar respostas amargas a certos problemas, porém, existe também o problema do conflito de deveres. Quando entregamos o Albert à polícia alemã, estamos a fazê-lo para não quebrar a máxima "Nunca deves mentir.". Mas, ao mesmo tempo, estamos a ir contra a máxima, igualmente correta, de "Não deves deixar inocentes morrerem.". Este problema deve-se à inflexibilidade da ética kantiana, e à rigidez do seu imperativo categórico.
  2. Desculpa a negligência bem-intencionada: Esta crítica aplica-se ao facto da ética de Kant ignorar as consequências das ações. Assim, se o agente agir com boas intenções, e seguindo o imperativo categórico, mas acabar por causar qualquer tipo de danos que prevaleçam por cima do bem causado, continuará, segundo esta ética, a ter agido bem.

Utilitarismo de Mill

John Stuart Mill
 John Stuart Mill foi um filósofo utilitarista, ou seja, um filósofo que acreditava que o maior bem da vida era a felicidade. A definição de felicidade para estes filósofos é:
  • A felicidade é o único bem com valor intrínseco e consiste no prazer e na ausência de dor.
 Mill desenvolveu uma teoria ética a partir do seu princípio da maior felicidade. Este princípio consiste em afirmar que as ações boas são aquelas que maximizam a felicidade, e as más aquelas que causam sofrimento. 
 Para Mill existem dois tipos de prazeres: os de ordem superior (de natureza intelectual), e os de ordem inferior (de natureza mais física). Mill defende que devemos preferir os prazeres superiores aos inferiores, argumentando que «[é] melhor ser um ser humano insatisfeito que um porco satisfeito; melhor ser um Sócrates insatisfeito que um tolo satisfeito; e, se o tolo ou o porco tem uma opinião distinta, é porque eles só conhecem o seu próprio lado da questão.»(2)
 Para que este sistema funcione, é necessário conhecer as consequências habituais de uma ação, ou seja, se fizermos uma determinada ação, temos que conseguir prever, na melhor das nossas capacidades, o que vai acontecer, de modo a maximizar a felicidade causada. 
 Utilizando o exemplo anteriormente dado, Mill não revelaria a localização de Albert, pois estaria a causar infelicidade a Albert e à sua família.


Críticas ao Utilitarismo

  1. Objeção do criminoso azarento ou do herói por acaso: Este contraargumento consiste em afirmar que, aceitando esta teoria, teríamos também de aceitar que alguém com más-intenções possa ter agido corretamente por azar seu. Por exemplo: «[S]e um assassino contratado falha o tiro e com isso fere um terrorista, assim impedindo que este detone uma bomba à distância que mataria dezenas de inocentes.»(3). Seria, neste caso, o assassino contratado um herói ou um criminoso à mesma?
  2. Males sem prejuízo: Ao contrário do que costumamos crer sobre os nossos deveres (e.g. honestidade e de honrar compromissos), o utilitarismo defende que uma ação sem más consequências não é considerada má. Por exemplo, se não cumprirmos uma promessa feita a alguém que não necessite já dela e já dela se tenha esquecido, seriamos considerados pelo utilitarismo como agentes neutros (nem bons nem maus). Porém, estaríamos a quebrar uma promessa à mesma, algo moralmente incorreto.
  3. Sacrifícios em nome do bem melhor: O utilitarismo diz-nos, diretamente, que podemos causar dores enormes a um indivíduo, desde que desta ação beneficiarem um maior número de indivíduos. Por exemplo, segundo o utilitarismo, é perfeitamente aceitável matar um sujeito para salvar a vida a dez. Tal posição é, hoje, amplamente rejeitada.
  4. A máquina do prazer: Esta objeção consiste em propor que, já que a felicidade é o bem supremo, muitos, senão todos, os indivíduos concordariam em viver ligados a uma máquina que lhes desse uma vida "virtual" recheada apenas de momentos de prazer e felicidade. Porém, quase ninguém parece aceitar esta proposta.
  5. Problemas no cálculo da utilidade: Estes problemas são levantados em dois pontos:
    1. Fazer um cálculo da utilidade presume que se consigam resumir todos os tipos de dores e satisfações, bem como a sua intensidade que, muitas vezes, varia de pessoa para pessoa, a uma escala numérica. Isto é algo altamente improvável de alguma vez conseguir ser realizado, senão mesmo impossível.
    2. Mesmo se este Adamastor de dificuldade fosse, de alguma forma, superado, teríamos ainda de prever as consequências, o que se torna extremamente difícil de fazer, especialmente quanto toca às consequências a longo prazo. 
     

Problema do carrinho (extra)

 Num artigo previamente publicado neste blog, falei sobre as éticas de Kant e de Mill, e apliquei-as a um famoso problema filosófico. Clica aqui para leres mais.

Exercícios 

1) A qual destas teorias da ética se aplicam as seguintes críticas?
A - Ética kantiana
B - Utilitarismo
  1. Males sem prejuízo
  2. Não resolve conflitos entre deveres
  3. A máquina do prazer
2 - Segundo Kant, um indivíduo que ajude os seus pais na cozinha em troca da sua mesada está a agir por dever ou conforme o dever?

3 - Completa a seguinte frase:
Segundo Mill, os prazeres de natureza intelectual são denominados de _______, enquanto os de natureza física são denominados de _______.

Resolução

 1) A - 2
     B - 1 3

2- Conforme o dever.

3 - superiores/inferiores

Notas

(1) - Retirado de: https://doxadep.blogspot.pt/2017/02/o-problema-do-carrinho-uma-analise-de.html
(2) - Retirado de: http://www.citador.pt/textos/antes-sabio-infeliz-que-tolo-feliz-john-stuart-mill
(3) - Pedro Galvão, António Correia Lopes: Preparação para o Exame Final Nacional Filosofia 11º ano, p. 57

Bibliografia

Pedro Galvão, António Correia Lopes: Preparação para o Exame Final Nacional Filosofia 11º ano
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/4/43/Immanuel_Kant_%28painted_portrait%29.jpg/800px-Immanuel_Kant_%28painted_portrait%29.jpg

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/20/Bundesarchiv_Bild_183-H15390%2C_Berlin%2C_Kaserne_der_LSSAH%2C_Vergatterung.jpg
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/9/99/John_Stuart_Mill_by_London_Stereoscopic_Company%2C_c1870.jpg/800px-John_Stuart_Mill_by_London_Stereoscopic_Company%2C_c1870.jpg
http://www.citador.pt/textos/antes-sabio-infeliz-que-tolo-feliz-john-stuart-mill
https://doxadep.blogspot.pt/2017/02/o-problema-do-carrinho-uma-analise-de.html

Guia compreensivo para o estudante: 10º ano, Ensino Regular - Aula ε

Valores

 Os valores são expressos através de juízos (A é B).
 É importante que se estabeleça a diferença entre juízos de facto e juízos de valor. Os juízos de facto são puramente descritivos, ou seja, seguem a fórmula A é B. Podem ou não coincidir com a realidade, ou seja, podem ser verdadeiros ou falsos. Tomemos com exemplo o seguinte juízo de facto:
  • O Boavista ganhou o campeonato pela última vez em 2000/2001.
 Este juízo de facto é, de facto, verdadeiro, mas não é isto que faz dele um juízo de facto. Igualmente, um juízo de facto pode ser falso e continuar a tratar-se de tal.
  • O Boavista ganhou o campeonato pela última vez em 2015/2016.
 O precedente juízo continua a ser um juízo de facto.

 Um juízo de valor é um juízo que atribui a algo um valor, quer seja positivo ou negativo, ético, estético, etc.
 Por exemplo:
  • Guernica é um quadro mais bonito que a Mona Lisa.
Guernica, Pablo Picasso
 Este juízo trata-se de um juízo de valor, pois trata-se da atribuição de um valor (ser um quadro mais bonito que a Mona Lisa) a algo (Guernica).

 Porém, podem-se exprimir valorações e preferências através de juízos de facto. Isto ocorre quando exprimimos um gosto, uma preferência, etc., na primeira pessoa. Por exemplo:
  • O meu quadro preferido é o Guernica.
 Aqui temos expresso um juízo de facto, pois estamos a exprimir uma preferência pessoal sobre determinado assunto (Guernica, neste caso), apesar de estarmos a atribuir valores estéticos.
 É convenção nestes casos assumir que a pessoa que faz o juízo está a dizer a verdade, visto que exprime juízos de facto sobre si mesmo.
 Existe também uma correlação entre os juízos de facto e os juízos de valor devido a esta aparente "irregularidade": Se alguém disser o juízo de facto "Penso que Sócrates agiu bem.", e tomar este juízo como verdadeiro, é implícito e obrigatório que aceite o juízo de valor "A ação de Sócrates foi boa." como verdadeiro.

Subjetivismo e objetivismo

 O subjetivismo defende que os valores de juízo são equivalentes a proposições de aprovação e desaprovação. Ou seja, defende que os juízos de valor e os juízos de facto são duas "entidades" distintas.
 Juntamente com o subjetivismo vêm associadas duas outras crenças: a relatividade e a historicidade.
 A relatividade defende que os valores são relativos a cada Homem, ou seja, para mim a escravatura pode não ser moralmente correcta, mas para o João pode ser.
 A historicidade defende que os valores vão mudando ao longo do percurso da História. Por exemplo, a escravatura era uma prática extremamente comum nos tempos de Sócrates, e era aprovada. Porém, actualmente, é extremamente reprovada pela maioria dos indivíduos.

 O objetivismo defende que os valores existem per si, ou seja, que os valores são algo completamente assente, e que são independentes do conhecimento humano. Defende assim que os juízos de facto e de valor não se distinguem verdadeiramente, pois os valores são, para os objetivistas, um facto do mundo, e um juízo de valor não passa de uma tentativa de descrever isso.
 Associados ao objetivismo vêm duas crenças, que se opõem às outras duas defendidas pelos subjetivistas: a absolutidade e a perenidade.
 A absolutidade defende que os valores são algo absoluto, e que não podem sofrer alterações.
 A perenidade defende que os valores são intemporais, e, por isso, não acompanham a História.
 Resumindo:


Posições filosóficas

 No 10ºano estudarás quatro posições filosóficas diferentes relativamente ao subjetivismo e o objetivismo; duas delas defendem o subjetivismo, e as outras duas o objetivismo.
 Vejamos:
  • Psicologismo e Emotivismo: Defendem o subjetivismo, devido ao facto de defenderem que os nossos sentimentos e opiniões pessoais definem os valores.
  • Naturalismo: Defende que os valores são uma qualidade intrínseca aos objetos. Ou seja, um livro é belo porque possui o valor de ser belo em si mesmo. Qualquer outra opinião está errada, pois este valor é objetivo e intrínseco ao livro. Defende, por isso, o objetivismo.
  • Ontologismo: Defende que os valores são ideias, ou seja, a expressão da racionalidade humana. Logo, são ideias que exprimem conceitos imateriais, e também inalteráveis e imutáveis. A defesa do objetivismo é diferente da defesa dos naturalistas pois os defensores do ontologismo afirmam que é a razão universal, algo comum a todos, que define e confere a objetividade. 
  Iremos agora distinguir o psicologismo do emotivismo:
  • Psicologismo: Os valores exprimem a natureza psico-comportamental do sujeito.
  • Emotivismo: Os valores exprimem as emoções e/ou sentimentos do sujeito.

 

Questões de primeira e segunda ordem

 Tomemos como exemplo a disciplina filosófica da estética, e o seguinte quadro:
At Eternity's Gate, Van Gogh
  • Questão de primeira ordem: Uma questão de primeira ordem é aquela que discute a preferência dos indivíduos A e B sobre o quadro, ou seja, é de primeira ordem a questão que coloca em cima da mesa juízos de valor (e.g. A: Gosto deste quadro, pois é belo. B: Não gosto deste quadro, pois não é belo.).
  • Questão de segunda ordem: Um questão é de segunda ordem se a questão colocada for sobre a natureza dos valores em si, e a sua objetividade/subjetividade. Neste caso, entramos no campo da metaestética (e.g. C: Será que este quadro possui intrinsecamente a propriedade de ser belo?).
 Com esta informação, podemos chegar à conclusão de que o subjetivismo e o objetivismo são ambos teorias de segunda ordem.

Argumentos a favor do subjetivismo

  1. Argumento da diversidade: Neste argumento defende-se que, simplesmente, os juízos de valor são extremamente diferentes de pessoa para pessoa (ou cultura para cultura).
  2. Argumento da estranheza de valores: Este argumento constata que, por exemplo, tal como para existir um copo têm que existir átomos, para que uma ação fosse objetivamente boa ou má (no caso da ética), os valores teriam de existir autonomamente e estarem presentes na ação. Tal parece-nos extremamente estranho, e como não temos indícios que tal exista, temos de aceitar o subjetivismo.
  3. Argumento da tolerância: Este argumento aplica-se à ética. Se estamos em dúvida se os valores são objetivos ou subjetivos, temos o dever de escolher a opção que cause menos confrontos entre diferentes culturas ou indivíduos, ou seja, o subjetivismo. 

Objeções a estes argumentos

  1. Um objetivista pode simplesmente constatar que a diversidade e divergência não são suficientes para negar que existe uma verdade absoluta. Lá porque existem pessoas que negam a existência de Deus e outras pessoas que afirmam a Sua existência não quer dizer que ambas as constatações estejam correctas, ou que Deus de facto não exista. Podemos apenas ainda não o saber.
  2. O objetivista pode argumentar da mesma maneira como argumentou no ponto 1: podemos simplesmente (ainda) desconhecer a existência autónoma destes valores.
  3. Uma objeção a esta linha de pensamento pode ser que, se aceitarmos o subjetivismo meramente por razões de tolerância, teremos também de aceitar e tolerar aqueles que não aceitam e toleram. Por exemplo, teríamos de aceitar alguém que acreditasse que matar os que não concordassem com ele em qualquer assunto (política, ética, estética, etc.) seria aceitável.

Argumentos a favor do objetivismo

  1. Argumento das consequências moralmente indesejáveis: Os objetivistas argumentam que, se aceitarmos o subjetivismo, teríamos de aceitar que linhas de pensamento moralmente reprováveis atualmente (e.g. as visões sobre a escravatura de antigamente, as visões sobre as "raças inferiores" dos nazis) não são nem mais nem menos corretas na nossa sociedade moderna. 
  2. Argumento da capacidade explicativa: Ao aceitar o subjetivismo, estamos a aceitar que não há um juízo de valor mais ou menos correto que outro, o que vai contra o que está profundamente enraizado em nós. Por exemplo, quando se discute a beleza do quadro Poker Game, existem certamente (para os objetivistas) maneiras melhores e piores de defender a beleza do quadro. Por exemplo, dizer que o detalhe é imenso será uma maneira certamente melhor de defender a beleza do que dizer que o quadro vendeu por mais de quinhentos mil dólares. Porém, se adotarmos um ponto de vista subjetivista, tal distinção desaparece, e as opiniões de especialistas, por exemplo, são uma perda de tempo.
  3. Poker Game
    Argumento da coincidência de valores: Neste argumento, o objetivista usa o argumento da diversidade contra o subjetivista, afirmando que existe uma enorme coincidência em valores morais e estéticos (embora com divergências, que se atribuem a erros e falta de formação e educação). Por exemplo, no campo da ética, virtualmente todas as sociedades modernas consideram reprovável a pedofilia e o homicídio. A melhor maneira de explicar isto é que estes valores existem objetivamente.
  4. Argumento do dissidente: Este argumento foca-se no relativismo cultural, e diz-nos que, visto que, segundo os subjetivistas, os valores, por exemplo, morais são o espelho da sociedade em que se encontram, como se explica que as sociedades mudem de valores? Afinal, os sujeitos teriam de considerar algo moralmente reprovável, dentro de uma sociedade em que esses valores se refletiam, algo que parece impossível de explicar usando o relativismo cultural.

Exercícios

1) Liga os seguintes termos à sua definição.
1 - Psicologismo
2 - Emotivismo
3 - Naturalismo

A - Os valores exprimem as emoções e/ou sentimentos do sujeito.
B - Os valores são uma qualidade intrínseca aos objetos.
C - Os valores exprimem a natureza psico-comportamental do sujeito.


2 - Completa a frase.
No objetivismo, os valores são ________.

3 - "Será que esta ação é eticamente correcta?» é uma questão de que ordem?


Resolução

1)
1 - C
2 - A
3 - B

2 - imutáveis

3 - Segunda ordem.

Referências

Pedro Galvão, António Correia Lopes: Preparação para o Exame Final Nacional Filosofia 11º ano
http://www.philosophy-dictionary.org/Axiological_subjectivism
http://sofos.wikidot.com/historicidade-perenidade
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/d/d2/Van_Gogh_-_Trauernder_alter_Mann.jpeg/800px-Van_Gogh_-_Trauernder_alter_Mann.jpeg
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/7/7a/Cassius_Marcellus_Coolidge_-_Poker_Game_%281894%29.png/1280px-Cassius_Marcellus_Coolidge_-_Poker_Game_%281894%29.png
https://static.significados.com.br/foto/guernica_bg.jpg

domingo, 11 de junho de 2017

Guia compreensivo para o estudante: 10º ano, Ensino Regular - Aula δ

A ação humana

Distinções entre ações e acontecimentos

 Nesta aula iremos tratar da distinção entre ação e acontecimento, e a distinção entre voluntário e involuntário.
 A distinção entre voluntário e involuntário trata-se de um distinção exclusiva, pois é impossível que algo seja, ao mesmo tempo, voluntário e involuntário. Por outro lado, a distinção entre ação e acontecimento não é exclusiva. Vejamos:
 Toda a ação é também um acontecimento no mundo. Pelo contrário, nem todos os acontecimentos são ações. Temos por isto um relacionamento intrínseco entre o conjunto dos acontecimentos com um subconjunto a si pertencente - o subconjunto dos acontecimentos que são também ações.
 Ou seja:
  Mas o que distingue uma ação de um acontecimento? Uma das características que permitem distinguir ações de acontecimentos são o facto das ações serem levadas a cabo por seres humanos.   Pelo contrário, os acontecimentos são levados a cabo por seres inanimados ou por animais, plantas, etc.
 Por exemplo, se Sócrates abrir a porta de sua casa, trata-se de uma ação. Mas se a porta se abrir devido à força do vento, temos nas nossas mãos um acontecimento.
 No exemplo dado anteriormente, Sócrates trata-se do agente da ação, pois é ele que a leva a cabo.
 Porém, nem tudo o que um ser humano faz é denominado de ação. Qualquer tipo de movimento involuntário, como respirar, não é denominado de ação.
 Com isto conseguimos ver que existe um requisito para que algo seja um acontecimento e ação ao mesmo tempo: a intencionalidade. Também se pode dizer que «uma ação é um acontecimento levado a cabo por um agente de modo voluntário, ou seja, por vontade própria, consciente e intencionalmente.»(1).

Determinismo

 O determinismo prova-se um problema extremamente interessante para a discussão filosófica: Será que os seres humanos são dotados de liberdade, ou serão as suas ações completamente determinadas por fatores externos?
 Existe a solução do livre-arbítrio, que defende que o Homem é capaz de decidir e agir de uma forma, pelo menos, parcialmente livre ou seja, temos controlo sobre as nossas ações. Como é óbvio, existem limites ao nosso livre-arbítrio, e virtualmente nenhum defensor do livre-arbítrio o nega.
 Os condicionantes das ações, ou seja, os limites ao livre-arbítrio, podem ser:
  • Sociais/históricas;
  • Morais/culturais;
  • Físicas/biológicas;
  • Económicas.
 Por exemplo, o facto de alguém, de nacionalidade portuguesa, que viva no século XXI não poder ser rei da Babilónia trata-se de um desses condicionantes em ação (neste caso, o condicionante em causa é o histórico).
 Estes condicionantes também recebem o nome de determinantes.

Argumento a favor do Determinismo : Uniformidade

Galáxia NGC 4414
 O argumento da uniformidade baseia-se na uniformidade com as ciências e as suas explicações.
 As ciências naturais baseiam as suas explicações numa ideia central: a causalidade necessária.
 Esta ideia defende que causas iguais geram efeitos iguais (Princípio da Causalidade).
 Ora, isto significa que qualquer estado em que o Universo esteja presentemente é um efeito de uma causa anterior (e será, necessariamente, a causa do efeito posterior). A este pensamento dá-se o nome de «Determinismo científico».

 Quase todos nós aceitamos este princípio para o mundo das ciências, como a Física. Da mesma forma, muitos de nós cremos que os «seres vivos não humanos, e também os (...) seres humanos na sua dimensão animal, obedecem ao mesmo princípio, sob a forma de programação genética ou de instinto(2).».
 Com isto, os deterministas argumentam que o determinismo deveria ser a posição por defeito no que toca à discussão filosófica sobre este tema, pois, visto que já descobrimos e assumimos que um princípio controla grande parte do Universo, só uma grande quantidade de provas de igual qualidade nos deveriam fazer pensar que tal princípio não se estende também ao domínio da mente.

Consequências do determinismo

 No dia-a-dia, o Homem pensa normalmente que, de facto, existe livre-arbítrio, as noções de culpa, responsabilidade, e de bem e de mal existem, e que as nossas ações não seguem necessariamente as leis deterministas, ou seja, realizamos as nossas ações livremente.
 Se aceitarmos o determinismo como completamente certo na sua forma mais "avançada" - o Determinismo radical - então temos nas nossas mãos um problema: Todas as noções previamente referidas desvanecem, devido ao facto de tudo estar pré-determinado. Se, começando na nossa última ação, começarmos a investigar qual foi a causa desse efeito, e seguirmos assim infinitamente, chegaremos até ao início do Universo.
 O livre-arbítrio é, por isso, uma ilusão com origem no facto de termos um conhecimento extremamente reduzido do Universo.
Depois desta aprendizagem, será o canibalismo repudiável?

Compatibilismo, incompatiblismo e libertismo

 Existem duas posições filosóficas inerentes ao determinismo:
  • Compatiblismo - O determinismo e o livre-arbítrio são compatíveis;
  • Incompatiblismo - O determinismo não é compatível com o livre-arbítrio.
 O compatibilismo é constituído pelo Determinismo moderado.
 O incompatibilismo admite duas versões:
  • Determinismo radical - Não há qualquer livre-arbítrio;
  • Libertismo - Temos livre-arbítrio e o determinismo é falso, devido ao facto de pelo menos alguns acontecimentos e/ou ações não serem determinados.
 O libertismo é defendido principalmente através da noção do Dualismo, em que se defende que a mente e o corpo são duas entidades diferentes. Logo, o corpo está sujeito ao determinismo científico, por se tratar de algo físico, enquanto a mente possui a capacidade puramente humana do livre-arbítrio.

Exercícios

1 - Qual é a tese que defende que existe livre-arbítrio, mas que é compatível com o determinismo?

2) Liga os números às letras correctamente.
  1. Compatibilismo
  2. Incompatibilismo
  • A - Libertismo
  • B - Determinismo radical
  • C - Determinismo moderado

Resoluções

 1 - Determinismo moderado.
 2) 1 - C
     2 - A B

Notas

(1) - Retirado de Pedro Galvão, António Correia Lopes: Preparação para o Exame Final Nacional Filosofia 11º ano, p. 26.
(2) -  Retirado de Pedro Galvão, António Correia Lopes: Preparação para o Exame Final Nacional Filosofia 11º ano, p. 27.

Bibliografia

Pedro Galvão, António Correia Lopes: Preparação para o Exame Final Nacional Filosofia 11º ano

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c3/NGC_4414_%28NASA-med%29.jpg

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/b/b6/Os_Filhos_de_Pindorama._Cannibalism_in_Brazil_in_1557.jpg/1280px-Os_Filhos_de_Pindorama._Cannibalism_in_Brazil_in_1557.jpg

Guia compreensivo para o estudante: 10º ano, Ensino Regular - Aula γ

Silogismos categóricos

 Os silogismos categóricos, estudados por Aristóteles, que os considerava a forma de raciocínio perfeito, são compostos por duas premissas e uma conclusão. A forma canónica (ou seja, a forma normal de representar este tipo de argumento) é a seguinte:
  • Premissa;
  • Premissa;
  • Conclusão.
 Um silogismo categórico pode ser:
  • Dedutivo - Quando se faz uma particularização, ou seja, se vai do geral (uma proposição universal) para o particular. Ou seja, a conclusão é sempre particular (com uma única exceção, que aprenderás no 11º ano [Modo: AAA]). É rigoroso quanto à forma e se for válido e as premissas forem verdadeiras, a conclusão é necessariamente verdadeira;
  • Não-dedutivo - Quando se fazem generalizações, previsões e analogias. Não é rigoroso quanto à forma e, ao contrário dos Dedutivos, se for válido e as suas premissas forem verdadeiras, a conclusão é somente provável.

Falácias

 As falácias são erros lógicos cometidos num argumento. Têm várias designações, consoante a sua natureza:
  • Formais - Quando o argumento é inválido;
  • Materiais - Quando as proposições são falsas.
 Existem ainda denominações para as falácias consoante a natureza com que foram cometidas:
  • Paralogismo - Quando foram cometidas por ignorância ou involuntariamente; 
  • Sofismo(1) - Quando foram cometidas com o intuito de manipular.

Exercícios

1) Completa as frases.
  1. Infelizmente, muitos políticos cometem _________, pois argumentam com o intuito de enganar.
  2. Ele, sem querer, tinha um erro numa proposição, logo, cometeu uma falácia (consoante a sua natureza) _______ e, ao mesmo tempo (consoante a natureza com que foi cometida) um _______.
2) Quando bem construídos, os silogismos categóricos não-dedutivos são:
  1. Somente prováveis.
  2. Necessariamente verdadeiros.
  3. Correctos.

 

Resolução

1)
1 - sofismos
2 - material/paralogismo

2 - 1

Notas

(1) - O nome de "sofismo" foi atribuído devido a um grupo de "filósofos" denominados "Sofistas", que eram professores remunerados, que percorriam as cidades-estado gregas, e ensinavam várias artes importantes para a vida política. 
 Sócrates e os seus seguidores (como Platão e, por consequência, Aristóteles) debatiam muitíssimo com estes indivíduos, pois acreditavam que estes ensinavam nada mais que a arte de enganar.
 

sábado, 10 de junho de 2017

Guia compreensivo para o estudante: 10º ano, Ensino Regular - Aula β

Contraexemplo

 Os contraexemplos são utilizados para tentar refutar a tese a que nos opomos. Temos, por exemplo, a seguinte proposição:
Orange on Yellow, de Mark Rothko
  • α - Toda a obra de arte imita a realidade.
 Um contraexemplo da proposição α será, necessáriamente, um exemplo, ou seja, algo em particular, que prove que a proposição α tem valor de verdade "F" (ou seja, falso).
 Por exemplo, numa discussão sobre estética, podemos deparar-nos com um indivíduo que argumente α, ao que nós podemos dar o contraexemplo de uma obra qualquer de Mark Rothko, por exemplo, que, como podemos observar na figura à direita, não imita a realidade.

Unidades básicas do pensamento

 Existem três unidades básicas do pensamento:
  • Conceito;
  • Juízo;
  • Raciocínio.
 Um juízo é um relacionamento de conceitos, e um raciocínio, um relacionamento de juízos.
 Sob o ponto de vista do discurso, temos a seguinte terminologia: Termo, Proposição e Conceito. De tal modo que, as equivalências são:
  • Termo equivale a Conceito;
  • Proposição equivale a Juízo;
  • Argumento equivale a Raciocínio.
 Ou seja:

Termos e conceitos

  Os termos são a unidade básica da argumentação. A relação entre dois termos produz uma proposição. Os termos não podem ser negados ou afirmados; eles são a expressão de um conceito.
 Os conceitos, por seu lado, são o que queremos dizer per si com os termos. Por exemplo, "vermelho" e "encarnado" são termos, aos quais corresponde um único conceito. Outro exemplo é, por exemplo, o termo ambíguo "rede", que tanto pode ter como conceito, por exemplo, "rede de pesca" ou "internet".

 Uma definição consiste numa relação entre dois termos, ligados pela cópula (verbo ser). Por exemplo:
  •  Uma obra de arte é um quadro.
 Sublinhados encontramos os termos, e a negrito a cópula.
 Esta frase exprime uma definição explícita, pois estamos a dizer que um termo é igual a outro termo explícito.
Tais definições podem ser, quando estão mal construídas, demasiado restritas ou demasiado latas - em ambos os casos, são más definições.
 Esta definição seria demasiado restrita se se encontrassem obras de arte que não fossem quadros.
 No reverso da medalha, esta definição seria demasiado lata se se encontrassem quadros que não fossem obras de arte.
 Porquê? Ora, se tomarmos como objeto de estudo esta definição explícita, podemos observar que restringimos toda e qualquer obra de arte a apenas quadros, e o mesmo para os quadros.
 Se encontrarmos um quadro que não é uma obra de arte, então estaríamos a dizer que as obras de arte correspondem a algo que é mais do que obras de arte, segundo a nossa lógica. Logo, seria demasiado lata.
Se encontrarmos uma obra de arte que não é um quadro, teríamos restringido demasiado o conceito de obras de arte, pois chegávamos à conclusão que há mais obras de arte do que quadros. Logo, seria demasiado restrita.

 Os termos podem ser avaliados de duas formas: segundo a extensão e segundo a compreensão.
Quanto mais extensão um termo possuir, menos compreensão possuirá, ou seja, variam em sentido inverso.
 Vamos avaliar o termo "cão" em termos de extensão, no sentido crescente:
  •  Cão - Animal de sangue quente - Animal - Ser vivo - Ser
 Vamos agora avaliar o mesmo termo, só que desta vez em termos de compreensão, no sentido crescente:
  •  Ser - Ser vivo - Animal - Animal de sangue quente - Cão

Boas e más definições

 Uma definição exprime o significado do conceito, por isso, tem de ser clara. Uma boa definição é um definição recíproca, ou seja:
  • β - A é B = Verdadeiro
  • β' - B é A = Verdadeiro
 β é uma boa definição, pois verifica-se reciprocidade (β' também tem valor de verdade verdadeiro).
 Pelo contrário:
  • γ - A é B = Verdadeiro
  • γ' - B é A = Falso
 γ é uma má definição, pois não se verifica reciprocidade (γ' não tem, também, valor de verdade verdadeiro).

Argumentos

 É essencial, não só para os filósofos, mas também para um cidadão informado, não só apresentar as nossas teses, mas também apresentar argumentos a favor dessas mesmas teses.
 Os argumentos são constituídos por ou mais premissas e de uma conclusão. Os argumentos que irás estudar este ano são silogismos, ou seja, têm duas premissas e uma conclusão.
Vejamos um exemplo.

Defenderemos a seguinte tese:
  • Os animais têm direitos.
  Para tal, podemos apresentar o seguinte argumento:
  • Os animais possuem a capacidade de sofrer.
  • Se um ser consegue sofrer, tem direitos.
  • Logo, os animais têm direitos.
 Note-se que os filósofos utilizam vários símbolos para exprimir simples expressões lógicas. Por enquanto, só terás de saber o seguinte símbolo, que representa "logo": .
A última proposição, neste silogismo, é a conclusão. As duas que a precedem tratam-se de premissas.

Os argumentos podem ser avaliados segundo dois critérios: solidez e validade.
Um argumento é válido se, e apenas se, as premissas apoiam a conclusão logicamente. Por isto, podemos ter um argumento válido mas com conclusão falsa. Vejamos:
  • Todos os animais são mamíferos.
  • O bacalhau é um animal.
  • ∴ O bacalhau é um mamífero.
Apesar de as premissas apoiarem a conclusão, a conclusão é obviamente falsa. Porém, este argumento continua a ser válido. Um argumento é sólido se, e apenas se:
  1. Tiver premissas verdadeiras;
  2. For válido.
  Ou seja, o exemplo anterior não pode ser sólido, pois a primeira premissa tem valor de verdade Falsa.
 O seguinte argumento:
  •  Todos os mamíferos são animais.
  •  Todos os gatos são mamíferos.
  •  ∴ Todas as zebras são animais.
 Continua a não ser sólido, pois é inválido, devido ao facto de as premissas não apoiarem a conclusão, apesar de ambas as premissas e a conclusão serem verdadeiras.

 Um exemplo de um argumento sólido pode ser:
  • Os leões são carnívoros.
  • Os carnívoros apenas comem carne.
  • ∴ Os leões apenas comem carne.  

Símbolos lógicos (extra) 

 Se ficaste interessado sobre a temática dos símbolos lógicos, apresento aqui um exemplo meu de lógica, e explico os símbolos envolvidos, e o significado do argumento. Começemos:
  • α ⇒ T
  • β ⇒ T
  • α ≡ ~β
  • β ≡ ~α
  • ∴ α ∧ β ⇒ T
  • ∴ (∃ p:(α∧ ~α)⇒T)⇒T
  Ora, as duas primeiras linhas dizem-nos que α e β têm ambas valor de verdade T (ou seja, são verdadeiras (isto é nos indicado pelo símbolo "⇒").
 As duas linhas seguintes dizem que α é definido como sendo "não" β, e que β é definido como "não" α (o símbolo "≡" significa "é definido como" e o símbolo "~" significa "não" ou "o contrário de").
 A seguinte linha diz-nos: "Logo, α e β é verdadeiro". ("∧" significa "e").
 A última linha dá-nos a conclusão: "Logo, a proposição de que existe pelo menos um p em que α e "não" α corresponde a um valor de verdade verdadeiro é verdadeira." ("∃" significa "existe pelo menos um".).
 Estas proposições lógicas correspondem à minha argumentação a favor do dialeteísmo social, uma tese que defende que é possível existirem várias verdades ao mesmo tempo, num nível social. Se estás interessado em ler o meu ensaio, que explica em maior detalhe, clica aqui.

Exercícios

1 - Qual destes verbos é a cópula?

A - Ter
B - Ser
C - Haver
D - Filosofar

2 - Qual dos seguintes símbolos significa "logo"?

A - ∴
B - =
C - α
D -

3 - Diz qual é a igualdade correcta entre as unidades básicas do pensamento e os termos filosóficos.
A - Termo
B - Argumento
C - Juízo
D - Conceito
E - Raciocínio
F - Proposição

Resolução 

1 - B
2 - A
3)
A - D
F - C
B - E
  

Bibliografia

https://uploads2.wikiart.org/images/mark-rothko/orange-and-yellow(1).jpg

quarta-feira, 7 de junho de 2017

Guia compreensivo para o estudante: 10º ano, Ensino Regular - Aula α

Introdução

 Chegaste ao 10º ano e, independentemente do que escolhas, tens sempre à tua frente uma estátua: a Filosofia. Agora, será um Adamastor? Ou será uma bela estátua do melhor mármore? Tudo depende do ponto de vista que tens sobre a disciplina!
 A Filosofia não é nenhum Adamastor, pelo contrário, é uma belíssima disciplina, diferente de todas as outras, pois incentiva o pensamento livre.
 Mas nem tudo são rosas, pois continuas restrito por testes e por horas de estudo. Por isto mesmo criei esta série de artigos, que te vai introduzir os temas tratados em Filosofia do 10º ano (Ensino Regular), e que, espero eu, te incentive a ter uma boa imagem mental da Filosofia, enquanto te ajude a perceber a matéria (e a ganhar pontos extra com o teu professor!). Vamos começar?

O que é a Filosofia?

 A Filosofia tem origem na Grécia Clássica (que é de onde vem o seu nome, em Grego: φιλοσοφία). A Filosofia é o "pensamento sobre o pensamento", é, no seu fundamento, "a busca do conhecimento sem outro fim". Como é claro,  a Filosofia dividiu-se em variadas questões. Mas em que questões?

Quais são as questões que a Filosofia trata?

 Ao longo do tempo, foram surgindo mais questões para a Filosofia tratar (e.g. a popularização da Filosofia da Existência por Sartre). Reúno-as aqui num quadro para fácil acesso.

 Como podemos ver no quadro, existem disciplinas filosóficas com problemas que se sobrepõem, como por exemplo a Metafísica e a Filosofia da Religião, com o problema da existência de Deus. Porém, apesar de terem o mesmo problema nas mãos, é importante reforçar que a abordagem que cada disciplina (e obviamente, cada autor) faz é diferente.

Pré e pós-socráticos (extra)

Tales de Mileto
Existem vários "períodos" na Filosofia, com variados filósofos de interesse inseridos neles, mas ao nível da Grécia Antiga são de interesse os Pré-Socráticos e os Pós-Socráticos. 
 Como o nome sugere, os Pré-Socráticos são todos os filósofos que precederam Sócrates. Um exemplo é Tales de Mileto, que considerava a água como sendo a origem de tudo o que era coisa.
 Os Pós-Socráticos são todos os filósofos que vieram depois de Sócrates. Mas afinal, porque é Sócrates visto como tendo tanta importância no mundo da Filosofia?
Sócrates
 Sócrates criou um método de discurso para demonstrar que os seus adversários, muitas vezes sofistas(1), estavam errados, e a forçá-los a admitir os seus erros. Por isto, Sócrates considerava-se um "moscardo", que andava por Atenas a "zumbir", começando ou reagindo a argumentos, e vencendo as discussões, utilizando o seu método. Sócrates é considerado por muitos, o pai da filosofia.

Argumentação

 Os argumentos são utilizados como meio para convencer o outro a aceitar determinada tese. Por exemplo, se a minha tese é que devemos ser vegetarianos, posso utilizar os argumentos de que os animais sofrem tal como nós, e que temos o dever de lhes oferecer a melhor vida possível.
 Um argumento é constituído por várias premissas e uma conclusão, sendo por isso largamente regido pela disciplina filosófica da Lógica. É esta disciplina e os seus ensinamentos que declaram se um argumento é válido ou inválido.
 Porém, um argumento nasce das bases do nosso discurso do dia-a-dia, que são os raciocínios, os juízos e os conceitos.
 Os argumentos são constituídos por proposições, e estas, por sua vez, são meramente relações entre termos. Mas o que faz de algo uma proposição?

Proposições

 Uma proposição é algo que é expresso através de uma frase declarativa, e que possui valor de verdade (ou seja, pode ser classificada como verdadeira ou falsa) (e.g. "Sócrates era um homem chato").
 Deste modo, frases imperativas (e.g. "Vai-te embora Sócrates!) e questões (e.g. "O chato do Sócrates já se foi embora?") não são proposições.
 Existem ainda proposições condicionais, sobre as quais assentam várias teses.
 Um exemplo de uma proposição condicional é: "Se o Sócrates aparecer, então não vou comparecer.".
 Repara que esta proposição é formada por duas outras proposições: "O Sócrates aparece." e "Não vou comparecer.".
 Substituindo estas proposições por letras gregas temos:
  •  Se α, então β.
 Ora, temos aqui duas condições.
 α é a condição suficiente, pois basta que Sócrates apareça para eu não comparecer.
 β é a condição necessária, pois indica-nos que tem que ser verdade que eu não tenha comparecido para Sócrates ter aparecido.

Por último, temos as Proposições universais, particulares, afirmativas e negativas, que estudaremos através do seguinte quadro:
 Do lado esquerdo do quadro observam-se as proposições afirmativas, e no lado direito as negativas. Em cima observam-se as universais e em baixo as particulares. (Ignora as letras e as informações do lado de fora do quadro. Trata-se de terminologia do 11° ano.).

Exercícios

1 - Indica quais das seguintes frases são proposições.
A- Vem aqui!
B- A Raquel tem um casaco muito bonito.
C- Nietzsche era passado da cabeça.
D- Estará Sócrates a argumentar agora?

2- Corresponde os números às letras gregas.
1- Universal afirmativa
2- Universal negativa
3- Particular afirmativa
4- Particular negativa

α- Alguns pássaros não cantam.
β- Todo o Homem é livre.
γ- Nenhum homem é mágico.
δ- Algumas vacas estão a comer.

3- Qual é o nome da Filosofia da Ciência?

Resolução

1)
B e C

2)
1 - β
2 - γ
3 - δ
4 - α

3- Epistemologia

Notas

(1) - Este termo será explicado no 11º ano.

Bibliografia

http://www.philosophybasics.com/general_whatis.html
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/c/c6/Illustrerad_Verldshistoria_band_I_Ill_107.jpg/800px-Illustrerad_Verldshistoria_band_I_Ill_107.jpg

https://nova-escola-producao.s3.amazonaws.com/356TdDbF3H7g8zgTRpaAtChCUUJy6gyajZkAjK3CPnKGx5xvd6d2c5MsPQnj/materia-especial-grandes-pensadores-socrates-o-mestre-em-busca-da-verdade-araldo-de-luca-corbis.jpg

http://bortolami.altervista.org/AULAS%20LOGICA/lezioni/2sem/images/categorica.png