Ética
A ética é o ramo filosófico que estuda as ações e como devemos agir.Fazem parte do currículo do 10ºano duas teorias do ramo da ética: a teoria de Immanuel Kant e a teoria de John Stuart Mill. Iremos aprofundar, primeiramente, a de Kant. Comecemos.
A teoria ética de Immanuel Kant
Conceitos básicos
A teoria de Kant baseia-se em classificar o valor ético de uma ação em função da intenção com que foi realizada, inserindo-se assim no "sub-ramo" das teorias deontológicas (nome que provem do grego «deontos» - dever). Kant, e os outros deontologistas, acreditavam que apenas é correto julgar as ações de alguém, de um ponto de vista ético, através das suas intenções, pois apenas estas são controladas pelo agente em questão.O dever
Immanuel Kant |
Por exemplo, a seguinte situação:
- Uma velhinha, com uma nota de cinco euros na mão, está com dificuldades a atravessar uma rua.
Por exemplo, se o José ajudasse a velhinha a atravessar a rua, com a motivação de tentar conseguir a nota de cinco euros como recompensa, estaria a agir de uma forma moral e eticamente incorrecta.
Pelo contrário, se o Carlos ajudasse a velhinha a atravessar a rua, apenas porque tal é o seu dever, estaria a agir correctamente, de acordo com a Ética Kantiana. A este último caso chama-se agir por dever.
Há ainda o agir conforme o dever. Por exemplo, se nós pagamos os nossos impostos, apenas porque desejamos ser respeitados, receber benefícios, etc., estamos a agir conforme o dever (pagar os nossos impostos). Pagar os impostos apenas por ser o nosso dever, sem ter em mente o respeito que poderá ser ganho ou os benefícios que poderemos receber, é agir por dever.
Imperativo categórico e imperativos hipotéticos
Kant sugere-nos também a sua ideia do imperativo categórico, com três formulações mais ou menos equivalentes. Mas primeiro temos que compreender o que são os imperativos hipotéticos.Imperativos hipotéticos são imperativos cujas regras temos que seguir para conseguir algo. Por exemplo, para sermos pianistas temos que seguir o imperativo hipotético de ter aulas de piano, por exemplo. Podemos resumir este imperativo como:
- Tem aulas de piano se desejas ser pianista.
O imperativo categórico é diferente, pois deve ser seguido em todas as ocasiões.
A formulação mais comum do imperativo categórico é a seguinte:
- Age de tal modo que a máxima da tua ação se possa tornar princípio de uma legislação universal.
«Quando Kant diz "(...)a máxima da tua ação(...)", ele refere-se à intenção do agente na altura de executar a ação.
"(...)se possa tornar princípio de uma legislação universal." refere-se ao facto de a nossa ação poder ser aceitável se for aplicada por todos os Homens da mesma maneira. Ou seja, imaginemos uma ação x. Se todos os Homens poderem executar x, e esta ação x se poder tornar uma lei universal (ou seja, não for prejudicial ao Homem, tanto indivíduo como no geral), podemos dizer que tal ação está de acordo com o Imperativo Categórico.»(1)
Ora, vejamos um exemplo:
Schutzstaffel, a polícia nazi que, supostamente, procuraria o Albert. |
- Imaginemos que vivemos na Alemanha sob o governo de Hitler. A polícia bate-nos à porta, e pergunta se vimos o Albert, um judeu que estamos a esconder em nossa casa, e que a polícia alemã pretende matar. O que fazemos?
- Ao dizermos que não vimos o Albert, estaríamos a mentir, o que vai contra o imperativo categórico, visto que se mentir se tornasse uma legislação universal, e todos os Homens seguissem este princípio, o mundo cairia no caos absoluto. Logo, temos que dizer que o vimos, e indicar onde ele está.
Outra formulação do imperativo categórico é a seguinte:
- Trata sempre as pessoas como fins em si, nunca como meros meios.
Críticas à ética kantiana
- Não resolve conflitos entre deveres: Como observamos anteriormente, a ética kantiana pode-nos dar respostas amargas a certos problemas, porém, existe também o problema do conflito de deveres. Quando entregamos o Albert à polícia alemã, estamos a fazê-lo para não quebrar a máxima "Nunca deves mentir.". Mas, ao mesmo tempo, estamos a ir contra a máxima, igualmente correta, de "Não deves deixar inocentes morrerem.". Este problema deve-se à inflexibilidade da ética kantiana, e à rigidez do seu imperativo categórico.
- Desculpa a negligência bem-intencionada: Esta crítica aplica-se ao facto da ética de Kant ignorar as consequências das ações. Assim, se o agente agir com boas intenções, e seguindo o imperativo categórico, mas acabar por causar qualquer tipo de danos que prevaleçam por cima do bem causado, continuará, segundo esta ética, a ter agido bem.
Utilitarismo de Mill
John Stuart Mill |
- A felicidade é o único bem com valor intrínseco e consiste no prazer e na ausência de dor.
Para Mill existem dois tipos de prazeres: os de ordem superior (de natureza intelectual), e os de ordem inferior (de natureza mais física). Mill defende que devemos preferir os prazeres superiores aos inferiores, argumentando que «[é] melhor ser um ser humano insatisfeito que um porco satisfeito; melhor ser um Sócrates insatisfeito que um tolo satisfeito; e, se o tolo ou o porco tem uma opinião distinta, é porque eles só conhecem o seu próprio lado da questão.»(2)
Para que este sistema funcione, é necessário conhecer as consequências habituais de uma ação, ou seja, se fizermos uma determinada ação, temos que conseguir prever, na melhor das nossas capacidades, o que vai acontecer, de modo a maximizar a felicidade causada.
Utilizando o exemplo anteriormente dado, Mill não revelaria a localização de Albert, pois estaria a causar infelicidade a Albert e à sua família.
Críticas ao Utilitarismo
- Objeção do criminoso azarento ou do herói por acaso: Este contraargumento consiste em afirmar que, aceitando esta teoria, teríamos também de aceitar que alguém com más-intenções possa ter agido corretamente por azar seu. Por exemplo: «[S]e um assassino contratado falha o tiro e com isso fere um terrorista, assim impedindo que este detone uma bomba à distância que mataria dezenas de inocentes.»(3). Seria, neste caso, o assassino contratado um herói ou um criminoso à mesma?
- Males sem prejuízo: Ao contrário do que costumamos crer sobre os nossos deveres (e.g. honestidade e de honrar compromissos), o utilitarismo defende que uma ação sem más consequências não é considerada má. Por exemplo, se não cumprirmos uma promessa feita a alguém que não necessite já dela e já dela se tenha esquecido, seriamos considerados pelo utilitarismo como agentes neutros (nem bons nem maus). Porém, estaríamos a quebrar uma promessa à mesma, algo moralmente incorreto.
- Sacrifícios em nome do bem melhor: O utilitarismo diz-nos, diretamente, que podemos causar dores enormes a um indivíduo, desde que desta ação beneficiarem um maior número de indivíduos. Por exemplo, segundo o utilitarismo, é perfeitamente aceitável matar um sujeito para salvar a vida a dez. Tal posição é, hoje, amplamente rejeitada.
- A máquina do prazer: Esta objeção consiste em propor que, já que a felicidade é o bem supremo, muitos, senão todos, os indivíduos concordariam em viver ligados a uma máquina que lhes desse uma vida "virtual" recheada apenas de momentos de prazer e felicidade. Porém, quase ninguém parece aceitar esta proposta.
- Problemas no cálculo da utilidade: Estes problemas são levantados em dois pontos:
- Fazer um cálculo da utilidade presume que se consigam resumir todos os tipos de dores e satisfações, bem como a sua intensidade que, muitas vezes, varia de pessoa para pessoa, a uma escala numérica. Isto é algo altamente improvável de alguma vez conseguir ser realizado, senão mesmo impossível.
- Mesmo se este Adamastor de dificuldade fosse, de alguma forma, superado, teríamos ainda de prever as consequências, o que se torna extremamente difícil de fazer, especialmente quanto toca às consequências a longo prazo.
Problema do carrinho (extra)
Num artigo previamente publicado neste blog, falei sobre as éticas de Kant e de Mill, e apliquei-as a um famoso problema filosófico. Clica aqui para leres mais.Exercícios
1) A qual destas teorias da ética se aplicam as seguintes críticas?A - Ética kantiana
B - Utilitarismo
- Males sem prejuízo
- Não resolve conflitos entre deveres
- A máquina do prazer
3 - Completa a seguinte frase:
Segundo Mill, os prazeres de natureza intelectual são denominados de _______, enquanto os de natureza física são denominados de _______.
Resolução
1) A - 2B - 1 3
2- Conforme o dever.
3 - superiores/inferiores
Notas
(1) - Retirado de: https://doxadep.blogspot.pt/2017/02/o-problema-do-carrinho-uma-analise-de.html(2) - Retirado de: http://www.citador.pt/textos/antes-sabio-infeliz-que-tolo-feliz-john-stuart-mill
(3) - Pedro Galvão, António Correia Lopes: Preparação para o Exame Final Nacional Filosofia 11º ano, p. 57
Bibliografia
Pedro Galvão, António Correia Lopes: Preparação para o Exame Final Nacional Filosofia 11º anohttps://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/4/43/Immanuel_Kant_%28painted_portrait%29.jpg/800px-Immanuel_Kant_%28painted_portrait%29.jpg
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/20/Bundesarchiv_Bild_183-H15390%2C_Berlin%2C_Kaserne_der_LSSAH%2C_Vergatterung.jpg
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/9/99/John_Stuart_Mill_by_London_Stereoscopic_Company%2C_c1870.jpg/800px-John_Stuart_Mill_by_London_Stereoscopic_Company%2C_c1870.jpg
http://www.citador.pt/textos/antes-sabio-infeliz-que-tolo-feliz-john-stuart-mill
https://doxadep.blogspot.pt/2017/02/o-problema-do-carrinho-uma-analise-de.html
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