domingo, 11 de junho de 2017

Guia compreensivo para o estudante: 10º ano, Ensino Regular - Aula δ

A ação humana

Distinções entre ações e acontecimentos

 Nesta aula iremos tratar da distinção entre ação e acontecimento, e a distinção entre voluntário e involuntário.
 A distinção entre voluntário e involuntário trata-se de um distinção exclusiva, pois é impossível que algo seja, ao mesmo tempo, voluntário e involuntário. Por outro lado, a distinção entre ação e acontecimento não é exclusiva. Vejamos:
 Toda a ação é também um acontecimento no mundo. Pelo contrário, nem todos os acontecimentos são ações. Temos por isto um relacionamento intrínseco entre o conjunto dos acontecimentos com um subconjunto a si pertencente - o subconjunto dos acontecimentos que são também ações.
 Ou seja:
  Mas o que distingue uma ação de um acontecimento? Uma das características que permitem distinguir ações de acontecimentos são o facto das ações serem levadas a cabo por seres humanos.   Pelo contrário, os acontecimentos são levados a cabo por seres inanimados ou por animais, plantas, etc.
 Por exemplo, se Sócrates abrir a porta de sua casa, trata-se de uma ação. Mas se a porta se abrir devido à força do vento, temos nas nossas mãos um acontecimento.
 No exemplo dado anteriormente, Sócrates trata-se do agente da ação, pois é ele que a leva a cabo.
 Porém, nem tudo o que um ser humano faz é denominado de ação. Qualquer tipo de movimento involuntário, como respirar, não é denominado de ação.
 Com isto conseguimos ver que existe um requisito para que algo seja um acontecimento e ação ao mesmo tempo: a intencionalidade. Também se pode dizer que «uma ação é um acontecimento levado a cabo por um agente de modo voluntário, ou seja, por vontade própria, consciente e intencionalmente.»(1).

Determinismo

 O determinismo prova-se um problema extremamente interessante para a discussão filosófica: Será que os seres humanos são dotados de liberdade, ou serão as suas ações completamente determinadas por fatores externos?
 Existe a solução do livre-arbítrio, que defende que o Homem é capaz de decidir e agir de uma forma, pelo menos, parcialmente livre ou seja, temos controlo sobre as nossas ações. Como é óbvio, existem limites ao nosso livre-arbítrio, e virtualmente nenhum defensor do livre-arbítrio o nega.
 Os condicionantes das ações, ou seja, os limites ao livre-arbítrio, podem ser:
  • Sociais/históricas;
  • Morais/culturais;
  • Físicas/biológicas;
  • Económicas.
 Por exemplo, o facto de alguém, de nacionalidade portuguesa, que viva no século XXI não poder ser rei da Babilónia trata-se de um desses condicionantes em ação (neste caso, o condicionante em causa é o histórico).
 Estes condicionantes também recebem o nome de determinantes.

Argumento a favor do Determinismo : Uniformidade

Galáxia NGC 4414
 O argumento da uniformidade baseia-se na uniformidade com as ciências e as suas explicações.
 As ciências naturais baseiam as suas explicações numa ideia central: a causalidade necessária.
 Esta ideia defende que causas iguais geram efeitos iguais (Princípio da Causalidade).
 Ora, isto significa que qualquer estado em que o Universo esteja presentemente é um efeito de uma causa anterior (e será, necessariamente, a causa do efeito posterior). A este pensamento dá-se o nome de «Determinismo científico».

 Quase todos nós aceitamos este princípio para o mundo das ciências, como a Física. Da mesma forma, muitos de nós cremos que os «seres vivos não humanos, e também os (...) seres humanos na sua dimensão animal, obedecem ao mesmo princípio, sob a forma de programação genética ou de instinto(2).».
 Com isto, os deterministas argumentam que o determinismo deveria ser a posição por defeito no que toca à discussão filosófica sobre este tema, pois, visto que já descobrimos e assumimos que um princípio controla grande parte do Universo, só uma grande quantidade de provas de igual qualidade nos deveriam fazer pensar que tal princípio não se estende também ao domínio da mente.

Consequências do determinismo

 No dia-a-dia, o Homem pensa normalmente que, de facto, existe livre-arbítrio, as noções de culpa, responsabilidade, e de bem e de mal existem, e que as nossas ações não seguem necessariamente as leis deterministas, ou seja, realizamos as nossas ações livremente.
 Se aceitarmos o determinismo como completamente certo na sua forma mais "avançada" - o Determinismo radical - então temos nas nossas mãos um problema: Todas as noções previamente referidas desvanecem, devido ao facto de tudo estar pré-determinado. Se, começando na nossa última ação, começarmos a investigar qual foi a causa desse efeito, e seguirmos assim infinitamente, chegaremos até ao início do Universo.
 O livre-arbítrio é, por isso, uma ilusão com origem no facto de termos um conhecimento extremamente reduzido do Universo.
Depois desta aprendizagem, será o canibalismo repudiável?

Compatibilismo, incompatiblismo e libertismo

 Existem duas posições filosóficas inerentes ao determinismo:
  • Compatiblismo - O determinismo e o livre-arbítrio são compatíveis;
  • Incompatiblismo - O determinismo não é compatível com o livre-arbítrio.
 O compatibilismo é constituído pelo Determinismo moderado.
 O incompatibilismo admite duas versões:
  • Determinismo radical - Não há qualquer livre-arbítrio;
  • Libertismo - Temos livre-arbítrio e o determinismo é falso, devido ao facto de pelo menos alguns acontecimentos e/ou ações não serem determinados.
 O libertismo é defendido principalmente através da noção do Dualismo, em que se defende que a mente e o corpo são duas entidades diferentes. Logo, o corpo está sujeito ao determinismo científico, por se tratar de algo físico, enquanto a mente possui a capacidade puramente humana do livre-arbítrio.

Exercícios

1 - Qual é a tese que defende que existe livre-arbítrio, mas que é compatível com o determinismo?

2) Liga os números às letras correctamente.
  1. Compatibilismo
  2. Incompatibilismo
  • A - Libertismo
  • B - Determinismo radical
  • C - Determinismo moderado

Resoluções

 1 - Determinismo moderado.
 2) 1 - C
     2 - A B

Notas

(1) - Retirado de Pedro Galvão, António Correia Lopes: Preparação para o Exame Final Nacional Filosofia 11º ano, p. 26.
(2) -  Retirado de Pedro Galvão, António Correia Lopes: Preparação para o Exame Final Nacional Filosofia 11º ano, p. 27.

Bibliografia

Pedro Galvão, António Correia Lopes: Preparação para o Exame Final Nacional Filosofia 11º ano

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c3/NGC_4414_%28NASA-med%29.jpg

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/b/b6/Os_Filhos_de_Pindorama._Cannibalism_in_Brazil_in_1557.jpg/1280px-Os_Filhos_de_Pindorama._Cannibalism_in_Brazil_in_1557.jpg

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