A ação humana
Distinções entre ações e acontecimentos
Nesta aula iremos tratar da distinção entre ação e acontecimento, e a distinção entre voluntário e involuntário.
A distinção entre voluntário e involuntário trata-se de um distinção exclusiva, pois é impossível que algo seja, ao mesmo tempo, voluntário e involuntário. Por outro lado, a distinção entre ação e acontecimento não é exclusiva. Vejamos:
Toda a ação é também um acontecimento no mundo. Pelo contrário, nem todos os acontecimentos são ações. Temos por isto um relacionamento intrínseco entre o conjunto dos acontecimentos com um subconjunto a si pertencente - o subconjunto dos acontecimentos que são também ações.
Ou seja:
Mas o que distingue uma ação de um acontecimento? Uma das características que permitem distinguir ações de acontecimentos são o facto das ações serem levadas a cabo por seres humanos. Pelo contrário, os acontecimentos são levados a cabo por seres inanimados ou por animais, plantas, etc.
Por exemplo, se Sócrates abrir a porta de sua casa, trata-se de uma ação. Mas se a porta se abrir devido à força do vento, temos nas nossas mãos um acontecimento.
No exemplo dado anteriormente, Sócrates trata-se do agente da ação, pois é ele que a leva a cabo.
Porém, nem tudo o que um ser humano faz é denominado de ação. Qualquer tipo de movimento involuntário, como respirar, não é denominado de ação.
Com isto conseguimos ver que existe um requisito para que algo seja um acontecimento e ação ao mesmo tempo: a intencionalidade. Também se pode dizer que «uma ação é um acontecimento levado a cabo por um agente de modo voluntário, ou seja, por vontade própria, consciente e intencionalmente.»(1).
Determinismo
O determinismo prova-se um problema extremamente interessante para a discussão filosófica: Será que os seres humanos são dotados de liberdade, ou serão as suas ações completamente determinadas por fatores externos?
Existe a solução do livre-arbítrio, que defende que o Homem é capaz de decidir e agir de uma forma, pelo menos, parcialmente livre ou seja, temos controlo sobre as nossas ações. Como é óbvio, existem limites ao nosso livre-arbítrio, e virtualmente nenhum defensor do livre-arbítrio o nega.
Os condicionantes das ações, ou seja, os limites ao livre-arbítrio, podem ser:
- Sociais/históricas;
- Morais/culturais;
- Físicas/biológicas;
- Económicas.
Estes condicionantes também recebem o nome de determinantes.
Argumento a favor do Determinismo : Uniformidade
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Galáxia NGC 4414 |
As ciências naturais baseiam as suas explicações numa ideia central: a causalidade necessária.
Esta ideia defende que causas iguais geram efeitos iguais (Princípio da Causalidade).
Quase todos nós aceitamos este princípio para o mundo das ciências, como a Física. Da mesma forma, muitos de nós cremos que os «seres vivos não humanos, e também os (...) seres humanos na sua dimensão animal, obedecem ao mesmo princípio, sob a forma de programação genética ou de instinto(2).».
Com isto, os deterministas argumentam que o determinismo deveria ser a posição por defeito no que toca à discussão filosófica sobre este tema, pois, visto que já descobrimos e assumimos que um princípio controla grande parte do Universo, só uma grande quantidade de provas de igual qualidade nos deveriam fazer pensar que tal princípio não se estende também ao domínio da mente.
Consequências do determinismo
No
dia-a-dia, o Homem pensa normalmente que, de facto, existe
livre-arbítrio, as noções de culpa, responsabilidade, e de bem e de mal existem, e que as nossas ações não
seguem necessariamente as leis deterministas, ou seja, realizamos as
nossas ações livremente.
Se aceitarmos o determinismo como completamente certo na sua forma mais "avançada" - o Determinismo radical - então temos nas nossas mãos um problema: Todas as noções previamente referidas desvanecem, devido ao facto de tudo estar pré-determinado. Se, começando na nossa última ação, começarmos a investigar qual foi a causa desse efeito, e seguirmos assim infinitamente, chegaremos até ao início do Universo.
O livre-arbítrio é, por isso, uma ilusão com origem no facto de termos um conhecimento extremamente reduzido do Universo.
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Depois desta aprendizagem, será o canibalismo repudiável? |
Compatibilismo, incompatiblismo e libertismo
Existem duas posições filosóficas inerentes ao determinismo:
- Compatiblismo - O determinismo e o livre-arbítrio são compatíveis;
- Incompatiblismo - O determinismo não é compatível com o livre-arbítrio.
O incompatibilismo admite duas versões:
- Determinismo radical - Não há qualquer livre-arbítrio;
- Libertismo - Temos livre-arbítrio e o determinismo é falso, devido ao facto de pelo menos alguns acontecimentos e/ou ações não serem determinados.
Exercícios
1 - Qual é a tese que defende que existe livre-arbítrio, mas que é compatível com o determinismo?2) Liga os números às letras correctamente.
- Compatibilismo
- Incompatibilismo
- A - Libertismo
- B - Determinismo radical
- C - Determinismo moderado
Resoluções
1 - Determinismo moderado.2) 1 - C
2 - A B
Notas
(1) - Retirado de Pedro Galvão, António Correia Lopes: Preparação para o Exame Final Nacional Filosofia 11º ano, p. 26.
(2) - Retirado de Pedro Galvão, António Correia Lopes: Preparação para o Exame Final Nacional Filosofia 11º ano, p. 27.
Bibliografia
Pedro Galvão, António Correia Lopes: Preparação para o Exame Final Nacional Filosofia 11º ano
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c3/NGC_4414_%28NASA-med%29.jpg
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/b/b6/Os_Filhos_de_Pindorama._Cannibalism_in_Brazil_in_1557.jpg/1280px-Os_Filhos_de_Pindorama._Cannibalism_in_Brazil_in_1557.jpg
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