segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Blade Runner, de Ridley Scott (1982)

Acerca do visionamento e comentários dos alunos de FILOSOFIA A – leituras e reflexões retiradas dos trabalhos realizados pelos/as alunos/as:
Roy Batty
Blade Runner é um filme que pode ter uma leitura filosófica, se entendermos que a questão que lhe subjaz é a questão fundamental da Filosofia: o que é o Homem?

Perguntar «o que é o Homem?» é procurar onde reside a sua Humanidade. 
Podemos, desde logo, afastar o critério do aspeto ou aparência (os Replicantes Nexus 6 são robôs perfeitos, andróides com aspeto humano), na senda, aliás, da Filosofia clássica desde Parménides de Eleia e Platão.

Poderemos, então, encontrar esse critério na Razão, como afirmou o Racionalismo e o Idealismo? Blade Runner demonstra a insuficiência desta resposta. Os robôs da série Nexus 6, os Replicantes – principais personagens do filme, a par do seu caçador, Rick Deckard – sendo idênticos aos seres humanos ao ponto da sua identificação ser demasiado difícil e subtil, eram, no mínimo tão inteligentes quanto os engenheiros genéticos que os criaram. Foram criados para colonizar outros planetas, sendo usados como escravos em tarefas perigosas e situações de alto risco – foram, portanto, concebidos como se fossem seres humanos elevados à perfeição: mais inteligentes, mais ágeis, mais fortes, mais belos.  Após um motim violento protagonizado por um grupo de Replicantes Nexus 6, são declarados ilegais; alguns fogem para a Terra. Os Blade Runner são a polícia especial cuja missão é exterminar os Replicantes fugitivos – ‘atirar a matar’. A solução final é entregue a Deckard.


Mas o que  distingue, afinal, os Replicantes dos seres humanos? As Memórias (ou melhor, a sua ausência, uma vez que não tiveram infância). As Emoções (o seu criador não lhes teria inculcado a faculdade emocional). E a Duração (os Replicantes Nexus 6 estavam programados para uma vida útil de apenas quatro anos).

Todos estes critérios vão sendo postos em causa no decorrer do filme: as memórias ‘fictícias’ de uma infância que não tiveram mas ‘criaram’ questiona, também, a essência da Memória, desse reservatório seletivo com o qual reescrevemos grande parte do passado a partir da inteligibilidade do presente.

A memória, as emoções e os sentimentos que, afinal os Replicantes desenvolveram estão na base de uma das cenas clássicas do filme e do cinema, a morte de Roy. Depois de salvar o seu perseguidor da morte, mostrando a clemência que a ‘humanidade’ de Deckart, o caçador de androides, não logrou, Roy recorda com emoção o que viveu e assinala que essas recordações morrerão com ele, dissolver-se-ão como lágrimas na chuva.


Esta cena, de uma extraordinária beleza, interpela temas clássicos da Filosofia, como a existência de Deus e a imortalidade da alma; interpela, conjuntamente, o problema do sentido da existência, da morte e da finitude.
Será que os andróides conquistarão, também uma vida para além dos quatro anos da sua duração útil? Esta questão decorre do filme e da cena da morte de Roy – será, quiçá, a pomba que se liberta das suas mãos, como uma ‘alma’ que busca a eternidade. Não esqueçamos que, qual Zeus que vence o seu divino pai, Cronos, Roy assassinara com as suas mãos potentes, Tyrell, o criador dos Replicantes que se negara a aumentar-lhes o tempo de vida. A morte de Deus.



O que é o ser humano? Qual o caminho da humanidade, senão, dirão os existencialistas, a infinita angústia da consciência da finitude? Agora, mais abandonado, num universo onde ‘Deus está morto’?  Esta é a essência do ‘ser homem’, a busca transcendente que, no filme, é empreendida pelos andróides, mais humanos do que os humanos: são eles que questionam o sentido da finitude, são eles que procuram Deus como resposta possível – e não a encontram. Assim, a morte de Roy é a morte de um homem sem deus, é, de certa forma, a morte de deus afirmada numa atmosfera cinzenta, chuvosa e niilista, sob o céu de uma inclemente Los Angels, algures no futuro representado no ano de 2019. 


FICHA TÉCNICA:

Título original - Blade Runner
Ano - 1982
Duração - 117 min.
País: Estados Unidos
Diretor: Ridley Scott
Guião: David Webb Peoples, Hampton Fancher (Novela: Philip K. Dick)
Música: Vangelis
Fotografía: Jordan Cronenweth
Elenco de atores: Harrison Ford, Rutger Hauer, Sean Young, Daryl Hannah, Edward James Olmos, Joanna Cassidy, Brion James, Joe Turkel, M. Emmet Walsh, William Sanderson, James Hong, Morgan Paull, Hy Pyke
Produtora: Warner Bros. / Ladd Company / Shaw Brothers

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