quinta-feira, 19 de outubro de 2017

O Deambular na Polis - 1

Serão as teses antigas ainda úteis? Serão mutáveis?
O problema que colocarei hoje em cima da mesa de operação, para ser dilacerado e tão profundamente cortado quanto possível, envolve uma das minhas "filosofias" preferidas: o Estoicismo.
Ora, os estoicos eram árduos defensores de que nunca deveriamos tratar os que nos trataram incorretamente da mesma maneira; ou seja, não só não pagar na mesma moeda, como nem um único cêntimo dar de volta aquele/a vagabundo/a que nos maltratou.
Um exemplo dado é o de uma simples pergunta: Faria sentido morder um cão caso este nos mordesse, dar um pontapé numa mula na eventualidade de esta nos dar um coice, etc.?
Ora, aqui encontramos um problema na prática estóica, que, na verdade, não é um problema mais do que uma simples característica desta doutrina filosófica: aceitar a natureza, e, igualmente importante, mudar o que se consegue mudar, e o que não se consegue mudar aceitar.
Os mais famosos filósofos argumentavam também que a fúria se mantinha na nossa alma mais tempo do que o ódio.
Logo, voltando à pergunta: posso eu pagar na mesma moeda?
Ora, não podemos aqui criar um falso dilema. Cada situação terá a sua maneira de ser interpretada, o que também variará de indivíduo para indivíduo.
Se aceitarmos esta doutrina a cem por cento, não teremos, na condição de sermos completos mestres de nossos corpos e almas, mais infelicidades, mágoas, etc., porém, estamos também a deixar com que nos aconteçam eventos da mais baixa ralé, e não podemos reagir de qualquer maneira.
Passando de uma das minhas bases para outra, vejamos Hegel, que, se não me engano, afirmou que as doutrinas antigas em nada se aproximavam às doutrinas da sua altura, pois os problemas do Homem evoluiram.
Aqui está o fundamento para a ressurreição do Estoicismo como força de auto-ajuda e de bem-estar geral. Pois, como disse o meu tão estimado Karl Marx nas suas "Teses sobre Feuerbach": "Os filósofos até hoje focaram-se apenas em analisar o mundo de diferentes maneiras; o objetivo é mudá-lo.".
Por estas razões, na minha opinião, a primeira coisa que um estóico do século XXI tem de aceitar é a mutação inerente que a sua doutrina sofreu, sofre, e sofrerá ao longo dos tempos; quer seja para melhor ou para pior no momento imediato, mas sempre confiante que o magnífico pêndulo da história se movimenta para o bem. Por isto, as antigas teses filosóficas são de extrema importância, desde que sofram mutações ao longo do tempo, com o objetivo de as aperfeiçoar e de as adaptar às condições do presente.

Sem comentários:

Enviar um comentário