Como todos sabemos, Portugal tem um trio estereotipada que descreve, atualmente, em tom de gozo, o típico povo português. Este trio é o dos "F"s: Fado, Futebol e Fátima. Este passado dia 13 de maio prometia ser grande, e excedeu as expectativas de tal forma, que a trilogia necessita de se tornar num quarteto. Analisemos então os acontecimentos destes passados dias e a proposta do quarto "F".
O Papa Francisco, chefe de estado do Vaticano desde 2013, é uma personalidade muito conceituada internacionalmente por crentes e não crentes, sendo a sua presença muito desejada em vários países com maioria cristã. Portugal, sendo um país conhecido pelo santuário de Fátima entre os católicos, óbvio que o Papa iria vir no Centenário das aparições de Fátima. No entanto, sendo também um estado laico, tenta não misturar a política com a religião... ás vezes. Com isto, eu refiro-me à tolerância de ponto concedida aos funcionários públicos.
Ora bem, como estamos no Politiquices, o meu objetivo não é discutir a seriedade da decisão do governo em dar uma folga aos funcionários públicos por motivos religiosos, nem se os privados são menos católicos que a função pública (se contarmos comigo, miserável ateu e estudante numa escola pública, a equação começa a não bater certo). Não de todo.
O que eu pretendo destacar verdadeiramente desta tolerância de ponto, é o jogo de cintura do nosso primeiro ministro António Costa. Porquê? Bem, na altura do anúncio desta decisão do governo, o cronista do Público e interveniente do programa Governo Sombra da TSF, João Miguel Tavares, redigiu esta crónica em que se opunha à tolerância de ponto por não ter como tomar conta dos "pirralhos" caso a escola fechasse (o que aconteceu), sugerindo ao primeiro ministro que ficasse com eles nesse dia. E o que é que o Costa fez?
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Cumpriu, foi isso que fez. |
São estes momentos que tornam o nosso Primeiro Ministro especial. Afinal, duvido que o Passos pensasse em fazer isto, sabendo que evitava sempre programas humorísticos durante o seu mandato.
Depois disso, tivemos o esperado: o professor Marcelo, acompanhado do António Costa recebeu o Papa e cumpriram o calendário, tendo feito uma visita sem grandes distúrbios e acompanhada das já usuais quebras de protocolo com que o nosso Presidente e o Papa já nos habituaram. Canonizou uns pastorinhos e tal, e no dia 13 de maio, a meio da tarde, volta o Papa ao Vaticano.
Então, tivemos Fátima, tivemos Futebol (com a conclusão da liga portuguesa), não tivemos Fado, mas tivemos o novo "F": Festival (da Eurovisão).
O novo "F"
Se calhar o leitor está a ponderar sobre a natureza desta crónica neste momento, e está a duvidar sobre a pertinência do Festival da Eurovisão em termos políticos. E eu respondo assim: "É muito pertinente, até mais do que o artigo escrito sobre infraestruturas." Porquê? Está muito associado à formação da União Europeia e ao espírito europeu que tem sido um bocadinho oscilante ao longo dos tempos (por favor não questione a presença do Azerbeijão, Austrália, Geórgia, Israel, etc. no festival; imagine que é um dogma, será mais fácil de esquecer). Além disso, este festival ficou marcado pela proibição da entrada da representante russa em solo ucraniano (*cough* Crimeia *cough*), ficando excluída da competição.
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"Celebrar a diversidade", e, já agora, deixar entrar países fora da Europa e excluir a Rússia. Lógico. |
Agora é assim, eu não estou a escrever este artigo só porque Portugal foi o vencedor deste ano do Festival da Eurovisão e porque estou muito excitado com o resultado. Nada disso.
O verdadeiro motivo é que, para além do nosso querido Salvador Sobral acompanhado da irmã Luísa (Obrigado, pá!) ter vencido através do sistema de votação do Festival que costuma ser dominado pela parcialidade dos jurados de cada país para a atribuição da cotação (diplomacia é uma coisa complicada, deveras), o nosso país vai ser anfitrião pela primeira vez de um dos eventos mais mediáticos a nível político, tendo participado há mais de meio século e só desta é que conseguiu ser vencedor.
Com uma canção que ia contra os dogmas criados pelo Festival nos últimos anos, verdadeiramente, foi "contra os canhões marchar, marchar!"
Com uma canção que ia contra os dogmas criados pelo Festival nos últimos anos, verdadeiramente, foi "contra os canhões marchar, marchar!"
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Para 2018 há mais! |
Claro que isto vai ser uma dor de cabeça para o nosso Primeiro Ministro, mas sabemos que pelo menos os convidados nunca irão ter um momento de descanso se o nosso Presidente Marcelo estiver presente (faz umas recomendações de livros, comenta a atualidade, discute a meteorologia, enfim, nunca fica sem tópico). Só gostaria que arranjassem alguma maneira de combater a invasão dos palcos por jovens lunáticos.
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Terei pesadelos durante semanas. |
E não se esqueça Sr. Primeiro Ministro, reserve uns bilhetes para mim, que lá estarei na linha da frente! Afinal, se não conseguir assistir em 2018, terei de esperar outro meio século para ter outra opurtunidade, e por essa altura só conseguirei ouvir através de um funil.
Portanto, concluída a minha análise, podemos concordar que, num país de 11 milhões de habitantes, a maioria absoluta dos cidadãos esteve entretida, quer seja a ver bola, a rezar, ou a cantar. Como já foi dito por Ricardo Araújo Pereira, quem não teve mãos a medir este passado dia 13 foram as idosas beatas benfiquistas amantes de música pop. É tudo.
Portanto, concluída a minha análise, podemos concordar que, num país de 11 milhões de habitantes, a maioria absoluta dos cidadãos esteve entretida, quer seja a ver bola, a rezar, ou a cantar. Como já foi dito por Ricardo Araújo Pereira, quem não teve mãos a medir este passado dia 13 foram as idosas beatas benfiquistas amantes de música pop. É tudo.
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