terça-feira, 18 de abril de 2017

Existencialismos

Introdução ao tema

 O Existencialismo foi um movimento cultural e uma posição filosófica, primeiramente identificada por este nome, por Jean-Paul Sartre. Enquanto que o lado cultural do Existencialismo perdeu-se após os anos 50, as
posições, questões e respostas filosóficas mantêm-se até hoje como tópico de debate filosófico. O existencialismo teve várias figuras importantes, das quais iremos destacar quatro:
  1. Søren Kierkegaard (um dos percursores do Existencialismo);
  2. Friedrich Nietzsche (o outro percursor desta corrente filosófica);
  3. Jean Paul-Sartre (o "pai" deste modo de pensamento);
  4. Albert Camus.
 De todos estes, Camus era associado de Sartre.
 É de notar que Camus rejeita a sua classificação como Existencialista, bem como a de Filósofo.

Søren Kierkegaard e Friedrich Nietzsche

Kierkegaard
 Søren Kierkegaard e Friedrich Nietzsche fundamentaram o Existencialismo através da sua visão sobre o indivíduo. Ambos chegam à mesma conclusão: que a multidão exprime a falsidade. Kierkegaard chega a esta conclusão através do exemplo de Abraão. Quando é pedido a Abraão que mate o seu filho, Deus fala-lhe a um nível pessoal. Ou seja, o "eu" sobrepõe-se ao "nós", algo completamente impensável ao nível da ética e da filosofia em geral. Kierkegaard argumenta que, para a filosofia, o "ego" só tem valor quando se ergue ao universal, através das regras da ética. Porém, a ordem dada a Abraão vai profundamente contra a ética, mas o impulso de Abraão é o de a seguir. Kierkegaard argumenta que tal ação de Abraão não seria compreendida pela filosofia, e seria condenada sob o nome da ética. Porém, como já vimos, Deus fala a Abraão pessoalmente, e, se virmos a sua vida como significante, traz o "paradoxo" pelo qual, através da fé, o indivíduo está acima do Universo. É aqui que aparece o problema da existência: "se há uma dimensão para o meu ser que tem significado e ao mesmo tempo não é governada pela base racional da moralidade, por que base é governada?".
 Kierkegaard sugere o Subjetivismo como resposta a este problema, condenando, finalmente, o universal (a multidão) como sendo a falsidade "em pessoa".


Nietzsche
 Nietzsche, ao afirmar que "Deus morreu!", parece apenas indicar-nos que chegámos a uma era em que a religião é dispensável. Porém, Nietzsche também afirma que quem "matou" Deus fomos nós, seres humanos de carne e osso. Já aqui, Nietzsche coloca o poder nas mãos humanas. Nietzsche porém, é pessimista.
 Nietzsche era um filósofo com um grande foco na Ética, porém, "usava a sua própria definição de Ética", que consistia, não em definir normas morais e éticas para viver uma vida virtuosa, mas sim em procurar uma possível justificação para a vida na Terra.
 A ética nietzschiana afirma que a moralidade é arrogante. Porquê? Por tratar-se de uma necessidade obsessiva de agir de acordo com um conjunto de regras, de modo a que cada um de nós coloque a nossa espécie acima das outras. Nietzsche devolve-nos ao nosso lugar natural, junto das outras espécies.
 Nietzsche ataca ainda mais a Ética e a Moralidade "tradicional" na sua obra A Genealogia da Moral. Afirma que a Moral não passa de uma série de regras desenhadas para domar os instintos criativos do Homem no seu estado natural, bem como a criação de um escudo de valores ascéticos.
 Nietzsche vê o Homem, não como um fim, mas sim um meio para algo "perfeito, completamente terminado, feliz, poderoso, triunfante, que ainda deixa algo a que temer!".
 Relembrando o início, Nietzsche afirma que matámos Deus. Porém, o que poderá substitui-lo? Se o significado do Homem, ao longo das eras, foi Deus, então o Homem não pode substituir Deus, porém, pode ser substituído por algo maior, a contradição de forças, o Übermensch.

Jean-Paul Sartre

Sartre
 Jean-Paul Sartre foi o autor que definiu o Existencialismo. Este filósofo acreditava que existe uma instabilidade dentro do próprio: que está dividido entre ser posicionado como uma união ou e ser visto reflexivamente como uma dualidade. Sartre argumenta que esta falta de auto-identidade ainda é agravada, pois tal é imposto ao Homem como sendo uma tarefa a cumprir.
 Sartre tinha a visão de que "a motivação por detrás da ação é encontrada na natureza da consciência, sendo esta um desejo de ser.".
 Sartre afirma que a existência precede a essência, ou seja, segundo ele, a personalidade não é construída segundo um determinado modelo, mas é o ser humano que escolhe formar a sua identidade pessoal e única, de acordo com estes modelos. Como Sartre diz: "o Homem, primeiro que nada existe, encontra-se, ergue-se no mundo - e define-se depois.".
 Sartre coloca a questão do Existencialismo da seguinte maneira: 'será justo que uma vida com significado de repente, quer por uma grande desgraça, ou por análise pura, possa tornar-se numa vida sem significado? 
 Sartre pode ter sido o principal impulsionador do Existencialismo, porém, não nos deu nenhuma resposta concreta nem definitiva. Deu-nos conceitos tal como o conceito de Liberdade Radical, em que afirma que não temos que respeitar qualquer ordem, por exemplo, pois, no "final das contas", temos sempre a opção de desrespeitar tais ordens. A liberdade é por isso vista no seu total por Sartre. Em vez de nos providenciar com respostas, Sartre afirma que a crise existencial é uma parte integral da vida do Homem.
 Porém, outro filósofo existencialista, escreveu sobre os mesmos temas e, esse sim, deu-nos uma resposta.

Albert Camus

 Albert Camus foi um filósofo francês nascido na Argélia, que focou a sua obra filosófica no absurdo da vida.
Camus 
 Camus escreveu O Mito de Sísifo, que começa da seguinte maneira:
«Existe apenas um único problema filosófico realmente sério: o suicídio. Julgar se a vida vale ou não a pena ser vivida significa responder à questão fundamental da filosofia.»
  Camus afirma isto pois, segundo ele, assim que o Homem começa a pensar seriamente, apercebe-se que, de facto, não há sentido na vida. A negação do sentido da vida que era dado por parte da Igreja e outras instituições religiosas é uma peça central na engrenagem da filosofia de Camus, bem como da maioria dos filósofos existencialistas aqui abordados. Não fomos criados por Deus para satisfazer a sua vontade, com a promessa de que, após a morte, teremos uma recompensa. Somos seres presos num Universo, que, no fundo, não tem sentido.
 Por isso, Camus faz um paralelismo entre o Homem e a figura mítica grega de Sísifo. Sísifo foi castigado pelos Deuses a empurrar uma enorme rocha até ao cume de uma montanha, e, sempre que alcança
o cume, a rocha cai, e Sísifo é obrigado a empurrá-la outra vez até ao cume, onde tudo se repete.
 Porém, Camus rejeita com todas as suas forças o Niilismo, e argumenta que devemos viver, mesmo sabendo que a nossa vida é fútil, sem significado, que seremos esquecidos após a nossa morte, etc.
 E, por isto mesmo, Camus dá-nos a solução numa simples frase: Temos de imaginar Sísifo feliz.



Notas:
(1) Texto original: "man first of all exists, encounters himself, surges up in the world – and defines himself afterwards." Retirado de O Existencialismo é um Humanismo

Bibliografia:
https://plato.stanford.edu/entries/existentialism/#NieNih (acedido a 19-03-17)
http://www.iep.utm.edu/existent/#SH2b (acedido a 19-03-17)
http://poieinkaiprattein.org/philosophy/jean-paul-sartre-s-existentialism-as-answer-to-existential-crisis-by-hatto-fischer/(acedido a 20-03-17) 
http://www.citador.pt/frases/existe-apenas-um-unico-problema-filosofico-realme-albert-camus-11752
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/89/Kierkegaard.jpg
https://pt.wikipedia.org/wiki/Friedrich_Nietzsche#/media/File:Nietzsche187a.jpg
https://en.wikipedia.org/wiki/Jean-Paul_Sartre#/media/File:Sartre_1967_crop.jpg
https://pt.wikipedia.org/wiki/Albert_Camus#/media/File:Albert_Camus,_gagnant_de_prix_Nobel,_portrait_en_buste,_pos%C3%A9_au_bureau,_faisant_face_%C3%A0_gauche,_cigarette_de_tabagisme.jpg
https://www.youtube.com/watch?v=jQOfbObFOCw
 

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