A minha tese é simples: um filósofo não é um profeta e o seu caminho não é errância. Essa imagem, a meu ver, perverte a filosofia na sua missão essencial que não é a simples sapiência – a própria designação de filo-sofia, procura da sabedoria, recusa-se como pura e simples posse e afirma-se como busca, inquietação pelo saber.
O especulativo incompreendido (e ridículo), que declama das nuvens ou para as nuvens (como o Sócrates de Aristófanes, na comédia As nuvens) pertence, de facto, ao anedotário filosófico e transporta um conteúdo determinado – e, apesar de tudo, adequado; adequa-se ao filósofo como ‘ser das alturas’, ao ideal ascético veiculado a partir de Platão. Gilles Deleuze (Logique du Sens) identifica, neste ‘psiquismo ascensional’, a associação platónica entre moral e filosofia; a simbologia filosófica abandona, assim, a investigação das profundezas, da terra, da matéria, como fora desígnio de muitos dos pré-socráticos (os Milésios, por exemplo) que faziam filosofia ‘com as mãos’, para se instalar no céu inteligível e aí ficar.

Ao contrário da ‘in-diferença’ ao mundo e aos seus diversos acontecimentos (todos os acontecimentos, de facto), a filosofia ensina-nos a fazer a diferença. Abre, assim, o caminho para um modo de pensar que é, sobretudo, uma maneira de viver e agir.
(em: http://minimaldiario.blogspot.pt/2011/11/imagens-do-filosofo-algumas-reflexoes_9646.html )
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